quem quiser ter um amigo
que mê a mão
o tempo passa e com ele caminhamos todos juntos sem parar
nossos passos pelo chão vão ficar
marcas do que se foi
sonhos que vamos ter
todo dia nasce novo em cada amanhecer'
Perdoa pelo tardar de minha vinda
Perdoa pelo aumento de gasto da renda mensal
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por gritar contigo quando me fazia cócegas
Perdoa por ter exigido tanto quando não precisava
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por sempre te querer mais em casa
Perdoa por ter medo de falar com você
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por não ter sido o melhor aluno sempre
Perdoa por não ter feito o curso que eu queria
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por ter dormindo tantas vezes fora de casa
Perdoa pelas noites de insônia que te dei
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por não te visitar por muito tempo
Perdoa por não fazer um papel que deveria estar fazendo
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por não te honrar com um casamento
Perdoa por não saber se vou te dar um netinho
Perdoa pelo receio em dizer que te amo
Perdoa por não saber como dar a força necessária
Perdoa pelo choro, pela preocupação, pela noite mal dormida
Mas é que, se antes eu tinha receio, hoje eu preciso dizer que eu te amo.
O único resquício do seu vício era o cheiro forte de cigarro que dominava todo o apartamento. Ele, como de costume, estava sentado próximo à janela, olhando a paisagem urbana decorada por prédios e poluição. Sentia-se deslocado, quase que invadido em seu próprio refúgio, como se pudessem lhe roubar aqueles momentos que se tornariam únicos.
Já não pertencia àquele lugar. E aquelas pessoas que o cumprimentavam quando passava eram como estranhos que se fingiam simpáticos. Suas esperanças e sonhos haviam mudado, da mesma forma que a noite vira dia, num período de vinte e quatro horas.
- estava em uma casa de samba chamada embalos de uma sexta à noite.
- e isso é nome de casa de samba?
- o importante é inovar, oras. os donos são de muito bom gosto.
- e... porque eu não fui convidado?
- ah, achei que você não fosse gostar.
- ah, você achou...
- mas, bem, se você tem interesse, a gente pode ir lá na semana que vem.
- não, talvez eu não goste mesmo de samba.
- mas você acabou de dizer...
- é, falei por falar.
porque você me pede pra entender, se não faz a mínima questão de me entender? porque, hoje, quando completamos dez anos de casados, você me deixa em casa e vai pra uma casa de samba? porque você não lembra que hoje fazemos dez anos de casados?
- feliz aniversário de casamento.
- ah, você lembrou?
- e como eu haveria de esquecer?
- não sei, você nunca lembra.
- claro que eu lembro.
- então você lembra que tínhamos uma reserva no Buena Famiglia?
- e nós tínhamos?
- você reservou há três semanas atrás.
- desculpa.
- não.
- quê?
- não.
- não o quê?
- você me pediu desculpas. eu disse não.
- isso é o começo de uma crise?
- não, isto é a crise.
porque você não me conta logo que tem outro? porque me traz presentes sem motivo e me chama de benzinho como antigamente, se às onze da noite está naquele hotel do centro com ele? porque, mulher, você não assume que não consegue viver sem mim, mas que precisa dele pra sobreviver, e me deixa curtir o sábado na casa do álvaro jogando pôquer e tomando cerveja? porque você finge manter um casamento que não existe mais nem na minha, nem na sua cabeça? porque, afinal, preferimos nos dizer felizes, se na verdade a única coisa real que sai de nossos olhos são as lágrimas.