Sunday, August 21, 2011

o repolho ou aquilo que eu sou

não, eu não canto muito bem. além do cigarro, eu não bebo muita água durante o dia. uma garganta seca não ajuda muito, ainda mais quando não se tem conhecimento técnico, treino e prática do respirar com o diafragma. isso não me impede de baixar músicas em versão karaokê, ligar o microfone e fingir que estou me apresentando no american idol, got talent, glee project ou ídolos mesmo.

é, eu também não sei se atuo muito bem. nunca fiz teatro, a não ser aquelas interpretações de clássicos da literatura nas aulas do primeiro e segundo grau. e, a não ser que apresentar trabalho possa se incluir aqui, evito ao máximo me colocar na frente de uma platéia inteira para falar qualquer coisa (excluo meu discurso de formatura). mas essa é uma das coisas que as aulas de teatro te proporcionam não é? ajudam você a lidar com a vergonha de subir no palco.

escrever? bem, talvez eu escreva razoavelmente. nunca consegui passar de cinco páginas, mas com pequenos textos eu já percebo que evoluí bastante. claro que uma boa escrita é inerente a uma boa leitura, então, na verdade, preciso é ler mais para poder aprimorar minhas técnicas ao escrever. criatividade eu acho que já tenho (não que seja suficiente, mas já ajuda).

há uns sete, oito anos, entrei num curso para aprender a tocar violão. fiz isso duas vezes. e nunca pratiquei em casa. só treinava durante a aula e passei a querer ser autodidata alguns anos depois. mas logo parei também. não que não gostasse ou não quisesse, apenas parei. hoje sou louco para aprender a tocar violino. me apaixonei por esse som orquestrante. mas não esqueci o violão. esse eu ainda aprendo também.

e então me pedem que eu escolha uma coisa só pra fazer? minha cabeça pode querer mil coisas por ser anormal. mas e esse sentimento que, definitivamente, aperta o coração? tem certeza que ele vem só do querer que você sente na cabeça? é possível que, realmente, você escolha somente uma coisa pra fazer, quando seu coração te faz sentir que você é capaz de tantas outras? e as possibilidades de uní-las? e aquelas mil possibilidades que te rondam, enquanto você sabe escrever, cantar, atuar, pintar, desenhar ou tocar algum instrumento?

não, não me diga que eu só posso escrever porque nisso eu sou bom. eu quero fazer um curso e aprender a atuar. eu quero aprender as técnicas e conseguir cantar. eu quero baixar inúmeras cifras e traduzí-las. e eu sei que tudo isso é possível. eu sei que um trabalho me prende, que uma cobrança inconsciente me faz ter mais preocupação com quantos reais eu vou ter amanhã do que se estarei feliz amanhã. logo eu que sempre fui tão admirador do carpe diem.

não sei o que aconteceu comigo. não sei onde eu perdi meus anseios: se quando desisti da faculdade de publicidade, se durante a faculdade de direito ou se quando achei que meu futuro era um concurso público. só sei que, em algum momento, nesses últimos seis anos, deixei de ser papoula e me tornei um repolho. desse mesmo que a gente encontra em supermercado: fechado, enrolado em plástico. sem ter para onde se abrir.

2 comments:

Srta. Pucca said...

O tempo faz com que a gente mude nosso planos, nossos projetos. As vezes amadurecemos, outras vezes nem tanto, mas se paramos é porque não era o momento certo de seguir com aquilo que almejavamos. Eu de repolho hoje passei para papoula e pode apostar que você retornará a ser papoula no momento certo.

Autor said...

Acho que todo ser humano é mutável por natureza.
Na verdade, tenho pena (ou seria inveja) daqueles que sempre sabem o que querem, para onde ir e que caminho tomar.
Me vejo como eu sem texto, pois acho que já quis abraçar o mundo e hoje vejo que não dei a volta no quarteirão.
Mas, é a vida. E vamos nela, caminhando e cantando e seguindo a canção.