Saturday, July 30, 2011

oscilação

É demais pedir que deixe a música melancólica continuar tocando? Não quero ouvir um samba, se não for falando mal de amigos, mal de amores, mal da vida. É um estado em que me encontro e que não me interessa melhorar. Porque melhorar? Aliás, pra quê melhorar? Prefiro deitar na cama e deixar que o remédio me leve a um sono profundo. Prefiro dormir para não pensar, do que me forçar a não pensar. Por quê? Porque não dá. Não consigo simplesmente me olhar no espelho e dizer: vai tomar no cu seu filho da puta, olha a vida maravilhosa que você tem. Não consigo.

Mas hoje o dia está lindo! Que céu azul, que pessoas maravilhosas, que família mais companheira que eu tenho. Meu trabalho está uma beleza. Meus colegas de trabalho brincam comigo enquanto eu coloco os fones de ouvido e começo a cantar meio alto atrapalhando o serviço deles. É muita felicidade, meu Deus. E aquele mestrado que eu tanto quero fazer? Inscrições abertas. Eba! E tem ainda as duas faculdades que ainda estão no começo e eu preciso terminar. Ah! E mais dois concursos daqui um mês, mas eu só vou estudar pra um deles. Quero tudo, quero tudo.

Mas a nuvem cinzenta no fim da tarde traz aquele sereno fino junto com um vento cortante. Pego o carro e saio percorrendo as estradas. Pra lá e pra cá. As vezes na contramão esperando que algum caminhão não me veja e me acerte em cheio. Quem eu sou? Um merda. Porque tanto sofrimento para as pessoas que me querem bem? Porque tantas palavras frias, tantos atos inconseqüentes, só pelo prazer do sofrimento alheio? Ah! Hoje eu to de saco cheio. Quero sumir, quero que o mundo suma comigo. Quero que Deus me tire a chance de tentar me reerguer. Quero que Deus me leve daqui.

Então meus sobrinhos me sorriem. E que felicidade. Tantas crianças pela casa. Tanta harmonia em conjunto nesse dia chuvoso. E que chuva maravilhosa! Dizem que lava a alma. Será? Bem, a minha está bem lavada. Estou feliz, estou feliz. Decidi que vou comprar aquela TV em que eu posso assistir filmes em 3D. E o computador de última geração que eu tanto queria. Ah! Sem esquecer, é claro, de trocar meu carro, que já há algum tempo não anda direito. E preciso renovar meu guarda-roupa também! Tem roupas lá que já tem um ano inteiro de idade. Não dá, não dá. Preciso renovar, preciso me renovar!

-

É assim que algumas pessoas levam a vida. E não adianta tentar entender. Só quem passa, só quem vive, só quem sente é que sabe. Por mais que se tente arrumar desculpas (ah, isso é besteira! ah, deixa de ser bobo, você não tem nada! bipolar? desculpa esfarrapada pras merdas que faz), infelizmente a coisa é real e toma conta de muita gente por aí. Alguns que nem sabem o que tem.

Thursday, July 28, 2011

apague a luz

'...um dia claro, um momento raro. é assim, que sempre seja assim.
que não se acabe nunca. e não mude jamais.'
Correu, correu, correu até o corpo dizer que cansava: tropeçou e caiu. Sentiu a dor fincando seu peito na estrada de pedras.

amanhã

não é possível saber o que acontecerá amanhã. um simples ato pode mudar todo o percurso daquilo que você imagina que possa acontecer. daí estava eu no consultório médico olhando duas crianças brincarem. irmãos, um talvez de seis anos, outro de um. e aí vem aquele pensamento na cabeça: 'será que um dia eu terei um filho?'

pro lado de lá

Ele não tinha medo de ser romântico. Pelo contrário. Mas havia perdido completamente o interesse em ser assim. As coisas já não podiam ser compensadas. Estava se deteriorando cada vez mais, por dentro e por fora. Enquanto seu coração lamentava a perda, seu corpo expressava o quanto estava acabado. Seus olhos pesavam quase que iguais à sua cabeça. Seus pés não agüentavam mais carregar seu corpo. Inútil! Ele gritava para si mesmo. Sabia que ali estavam as sobras de uma vida já sem sentido. E preferiu calar-se. Moveu-se para fora de sua própria vida. Seriam dois agora.
Os tempos eram outros e toda aquela ansiedade, que antes o consumia, havia passado. O arrependimento resolveu que o incomodaria sempre que tivesse oportunidade, e isso acontecia agora com tanta freqüência que ele já não podia contar nos dedos. Suas lágrimas eram secas. Haviam se esgotado completamente. Fora atingido a pontapés naqueles últimos dias, e se sentia fraco. Queria gritar. Mas seus gritos não pareciam fazer nenhum sentido.

O único resquício do seu vício era o cheiro forte de cigarro que dominava todo o apartamento. Ele, como de costume, estava sentado próximo à janela, olhando a paisagem urbana decorada por prédios e poluição. Sentia-se deslocado, quase que invadido em seu próprio refúgio, como se pudessem lhe roubar aqueles momentos que se tornariam únicos.

Já não pertencia àquele lugar. E aquelas pessoas que o cumprimentavam quando passava eram como estranhos que se fingiam simpáticos. Suas esperanças e sonhos haviam mudado, da mesma forma que a noite vira dia, num período de vinte e quatro horas.

artur e carol

estavam os dois sentados na mesma mesa onde compartilhavam todas aquelas idéias há mais de um ano. o lugar era chamado de dois e quarenta e nove, ou mercantil, ou et cetera. amigos eles eram há quase uma década, mas aquelas tardes todas só passaram a ser compartilhadas naquele fatídico dia oito de outubro de dois mil e nove.

há um ano atrás, o sol estava quente, mas não tão quente quanto hoje em dia. um telefonou pro outro para trocar uma idéia acerca das roupas que usariam dali uma semana numa festa à fantasia:
- ah, carol, acho que vou de mickey mouse.
- pois é, eu to afim de ir de cinderela.
- ah, ta aí, acho uma boa idéia. mas deixa sua tatuagem de cerejinhas pra fora do vestido.
- claro né meu filho! vai que aparece alguém querendo morder.
- mas, heim, tá um calor da porra. vamo tomar uma?
- cara, to no trabalho.
- e sai que horas?
- ih, só depois das cinco.
ainda eram duas e meia da tarde.
- porra, carol! da uma fugida daí.
- oh, agora não vai dar, mas daqui a pouco eu tento.
- ok. vamos nos encontrar lá no mercantil, tá?
- uhum.
- te espero lá.

naquele dia, há um ano atrás, o artur estava descarrilhado. e a carol mais nervosa do que o normal.

[now: sinceramente não lembro o porquê dessa história. mas achei aqui nos meus rascunhos do blog. resolvi compartilhar só pra homenagear minha amiga]

Ele terminou com ela

Ele terminou comigo. E agora o que eu vou fazer? Não sei viver sem ele, não sei o que fazer sem ele. Minha vida já não faz sentido. Eu não quero mais sair de casa, não quero mais me ver no espelho. Não quero comer, dormir ou fazer qualquer outra coisa que não seja pensar nele. Se não o tenho mais, não me tenho mais também. Minha vida se foi dentro da mala que ele levou com suas coisas do nosso apartamento. Esse apartamento já não é mais o mesmo. Sem ele, ele nunca será mais o mesmo. O que eu faço agora, meu Deus, o que eu faço?

Ele terminou comigo. Por quê ele fez isso? Simplesmente disse não te amo mais e foi embora? E desde quando se deixa de amar assim, de uma hora pra outra? Ele não é a Alice/Jane de Closer para decidir se me ama ou não enquanto saio para comprar cigarros. Ele pensa que é quem? Como assim ele joga cinco anos de namoro no lixo, como se não tivesse significado nada para ele? Nunca pensei que ele fosse tão cruel a esse ponto. Como nos enganamos com as pessoas.

Ele terminou comigo. Eu já não choro mais todas as noites. Apenas quando, por acaso, encontro algo que ele esqueceu no que agora é meu apartamento. Ele realmente sumiu da minha vida, apagando todo e qualquer rastro que pudesse trazê-lo até mim. E assim eu também o fiz. Queimei todas as fotos , cartas e até joguei fora aquelas pétalas secas das rosas que ele me mandou em todos os nossos aniversários de namoro. Mudei de telefone, comprei novas roupas.

Ele terminou comigo. Agora chegou a hora da vingança. Vou sair, curtir a vida, encher a cara e ficar com o primeiro que aparecer na minha frente. Ou os primeiros. E até as primeiras. Vou me entregar a todos os corpos que encontrar, de forma que uma hora eu não o veja mais em nenhum deles. Quero sentir as mãos, os dedos e todos os pêlos do corpo deles roçando meus seios, meus braços, minha vagina. Quero que todos me possuam. Vou virar bicho entre quatro paredes. E fora delas também. Quero escadas, carros e até mesas de trabalho.

Ele terminou comigo. E minha vida não acabou. Ele foi embora da minha vida sem deixar rastros. E eu sou feliz por isso. Eu não entendi por quê. Hoje eu sei que ele não me merecia. Hoje eu sei que era muito mais do que ele podia ter. E ele me fez um favor. Saiu da minha vida e levou junto com ele todo o peso de estar ao lado dele. Ele terminou comigo e me deixou viver. E hoje eu sou grata a ele por isso.

porque...

porque você me conta histórias da qual não faço parte? porque me fala de sonhos, se eu sei que quando você fecha os olhos não lembra de mais nada? porque me faz promessas que não pode cumprir e depois me pede desculpas, como se fosse fácil perdoar assim? porque me arrepia os pêlos do braço, se ao amanhecer vai partir e simplesmente esquecer de ligar? porque, quando não quero, me toma nos braços e diz que aquela será a última vez, se sabe que é a partir dali que vai começar a saudade? porque se embrigada no fim de semana e me liga de madrugada só para dizer eu te amo? porque diz que sou só seu, se você não é só minha? e porque, diabos, nos seus planos não se inclui a minha felicidade?

- estava em uma casa de samba chamada embalos de uma sexta à noite.
- e isso é nome de casa de samba?
- o importante é inovar, oras. os donos são de muito bom gosto.
- e... porque eu não fui convidado?
- ah, achei que você não fosse gostar.
- ah, você achou...
- mas, bem, se você tem interesse, a gente pode ir lá na semana que vem.
- não, talvez eu não goste mesmo de samba.
- mas você acabou de dizer...
- é, falei por falar.

porque você me pede pra entender, se não faz a mínima questão de me entender? porque, hoje, quando completamos dez anos de casados, você me deixa em casa e vai pra uma casa de samba? porque você não lembra que hoje fazemos dez anos de casados?

- feliz aniversário de casamento.
- ah, você lembrou?
- e como eu haveria de esquecer?
- não sei, você nunca lembra.
- claro que eu lembro.
- então você lembra que tínhamos uma reserva no Buena Famiglia?
- e nós tínhamos?
- você reservou há três semanas atrás.
- desculpa.
- não.
- quê?
- não.
- não o quê?
- você me pediu desculpas. eu disse não.
- isso é o começo de uma crise?
- não, isto é a crise.

porque você não me conta logo que tem outro? porque me traz presentes sem motivo e me chama de benzinho como antigamente, se às onze da noite está naquele hotel do centro com ele? porque, mulher, você não assume que não consegue viver sem mim, mas que precisa dele pra sobreviver, e me deixa curtir o sábado na casa do álvaro jogando pôquer e tomando cerveja? porque você finge manter um casamento que não existe mais nem na minha, nem na sua cabeça? porque, afinal, preferimos nos dizer felizes, se na verdade a única coisa real que sai de nossos olhos são as lágrimas.

Tuesday, July 26, 2011

o hoje

é uma dor de cabeça que não passa. e entope-se o corpo de remédios. para dormir. dorme que passa. passa nada. quando acorda ela volta. e quando volta, vem com tudo. dormindo ela some. mas, não satisfeita, quando acorda ela aparece. e não é de vez em quando, como a tia que traz bolo. é como aquele primo chato, que trabalha perto da sua casa e vai almoçar todos os dias.

Saturday, July 23, 2011

anoite

um cigarro de menta entre os dedos.
uma sacada.
um pensamento sóbrio.
um pensamento sombrio.

Friday, July 22, 2011

me digam

me digam qual a receita para que as coisas saiam exatamente como o esperado. qual o remédio que cura ressaca, mas também cura o arrependimento do dia seguinte. me digam qual a probabilidade de, entre milhões de jogadores da mega-sena você ser o sorteado. me digam, mas me digam com toda sinceridade, como você vai sair seco se o mundo inteiro tá molhado?

ansiedade

Todo mundo fala pra eu controlar a ansiedade. Mas como eu posso controlar algo que me controla? Aí dizem que eu não posso me deixar controlar. Eu nem gosto de nada que me controle. Mas eu vou fazer o quê? Ansiedade me consome, invade meu corpo, invade minha alma e toma conta de mim.

Cria expectativas, situações imaginárias, sonhos realizados e desejos profundos. Dali me leva a acreditar que tudo vai acontecer. Em apenas vinte e quatro horas. Ouvi dizer que o tempo passa, e que a gente tem que saber aproveitá-lo. Que as oportunidades chegam quando você menos espera e você tem que saber aproveitá-las. Mas, e daí?

E daí que o tempo ainda não passou e nenhuma oportunidade chegou, mas você sente como se não tivesse mais tempo, como se aquela oportunidade que não veio não fosse dar lugar a uma outra, muitas vezes melhor. A ansiedade te torna escravo do futuro, renegante das experiências do passado e mais ainda do que está acontecendo no presente.

E o futuro? Bem, o futuro ainda não veio. E passado também já foi. O importante mesmo é olhar para o presente, agarrar a oportunidade que se coloca nas suas mãos e não à sua frente. Porque a ansiedade faz isso: faz você perder o que está ali, achando que vai agarrar o que ainda nem chegou.

Thursday, July 21, 2011

vão e vem...

Gosto de brincar com as palavras. Aliás, na verdade, as palavras gostam de brincar comigo. As vezes elas vem, as vezes não. Não sou eu que exerço controle sobre elas, mas elas que exercem controle sobre mim. É assim que é, e ponto. Mas não é um ponto final. É um ponto que acaba aqui e continua ali, depois, em outro texto, em outra frase, em um ou outro diálogo. É só ligá-los depois e perceber que na verdade tudo faz parte de uma única história. A minha, a sua, a de nós todos. Não tenho pretensão de buscar um significado pra qualquer existência, apenas para esses poucos momentos de nossa existência. E sei que, por ali, por aqui ou por outro caminho, um ou outro vai se encontrar. Porque toda história, por mais individual que seja, tem um quê de semelhança com outras individualidades.

Tuesday, July 05, 2011

mais do mesmo

Uma voz minúscula ecoa um grito em sua cabeça: faça, corra, aconteça. Você, destemido, do tipo que odeia desafios, lança mão do que te aflinge e parte para o ataque. Um ataque demorado, sentido, penetrante. A voz te envolvendo mais e mais a cada minuto. E você não consegue olhar pra cima e ver a luz. Só vai afundando cada vez mais n’um poço sem fundo. Entorpece a pele com a lâmina afiada, entorpece o estômago com pequenas gotas daquilo que vai te fazer voar para bem longe. Nessa certeza, então, os anjos o guiam. E que anjos mais solidários que sois. Na infinitude de um sono infantil, um sonho de luz.