Wednesday, July 30, 2008

-maninho, num é que dizem que o céu muda de cor toda vez que os anjos choram?
-que nada, o céu muda de cor porque vai chover.
-foi isso que eu quis dizer, idiota.
-é, só que eu não acredito em anjos.

Monday, July 28, 2008

teu próprio verdugo

Morrerás, como tantos, como os peixes: da forma mais tola.

sempre há uma luz no fim do túnel
Mas ainda há chance. Sempre existe esperança para aqueles que nela acreditam.

Thursday, July 24, 2008

quando só você não basta

Fiquei a pensar que não consigo mesmo ficar sem ninguém. Me senti orfão, sem lugar para ir. É incrível como às vezes você pensa que não precisa daquela pessoa, muito menos daquela outra, principalmente naqueles momentos. E aí a vida vem te ensinar que não é bem assim.

É claro que, como todas as pessoas, quero meus momentos solitários: aqueles em que quero pensar na vida, ouvir uma música e dançar sozinho no meio da rua, encostar a cabeça na janela e olhar para o mundo lá fora. Mas, pelo menos para mim, nos dias de hoje, esses são momentos durante o dia, e não o dia inteiro.

Matar saudade daqueles que moram longe. Aproveitá-lo como se fosse só seu e de mais ninguém, nem de lá, muito menos de cá. Como se só você existisse para ele. Colocá-lo, como de vez em quando se diz, na sua bolha. Onde só você entra e sai, e onde guarda tudo aquilo que diz respeito a você. E só a você. Egoísmo, sim!

Não sou sozinho. E, que me lembre, nunca fui sozinho. Se fui, exercitei ao máximo – e isso desde criança – a me socializar com os outros: conversar mesmo quando os conheço no dia, fazer amizades para a vida inteira. Mesmo que a vida inteira signifique alguns anos, alguns meses, ou simplesmente alguns dias.

Talvez seja pretensão minha afirmar que sou bacana, agradável e divertido. Mas é assim que me enxergo, apesar da frequente melancolia que se passa na nuvem em forma de cérebro que tenho na cabeça. Entendo que diversas vezes sou chato, também. Mas isso não condiz com minha personalidade por completo.

- Oi, como é o seu nome?
- Eduardo.
- Meu nome é Luíza. Lembra de mim?
- Er...
- Estudei com você até a sétima série.
- Mesmo? Ah, você usava óculos e sentava no canto direito da sala. Bem na frente?
- Isso.
- Nossa, como você mudou.
- É.
- Eu sei que não mudei quase nada.
- Lembra de quando...

E assim vai.

com os olhos fechados

Todos os dias quando acordava, ele sentia que precisava de um lugar mais tranqüilo, onde pudesse sonhar.

Monday, July 21, 2008

vênus

- Olha, Léo, lá em cima.
- O quê?
- Aquela estrela.
- Não é estrela, é Vênus – afirmou ele secamente.
- Você está estranho. Aliás, venho te achando esquisito há alguns dias. Aconteceu algo?
- Não.
- Te conheço há anos Leonardo. Você acha mesmo que eu não saberia quando algo estranho tivesse acontecido?
- Ah Bárbara, são as coisas fora do lugar.
- Que coisas fora do lugar?
- O mundo.
- Filosofando é?
- De certa forma. Ultimamente ando refletindo sobre algumas coisas.
- Hum, que tipo de coisas?
- Já ouviu O Teatro Mágico?
- Já.
- Então, porque o mar não se apaixona por uma lagoa?
- Segundo eles porque a gente nunca sabe de quem vai gostar.
- É, é mais ou menos isso.
- Tá apaixonado?
- É Vênus.

outros tempos

É engraçado como você passa a sentir falta de coisas que achava que nunca iria sentir. De repente aquele sentimento te invade, as lembranças tomam conta dos seus pensamentos e você pára. O que foi vivido está guardado no passado, de uma forma que não haverá de se repetir. Aqueles momentos em que o tempo, de repente, parou e onde cada coisa era algo novo, uma descoberta. Dá saudade.

teorias

Um avião num céu sem nuvens é como uma vida sem obstáculos: sem turbulências, mas sem emoção.

Thursday, July 17, 2008

se for, será

Aqueles espinhos que me corroíam por dentro, hoje são a parte exterior do meu corpo. A luta foi tão grande que alcançaram a superfície, tornando-se aquela parte mais notável de mim. São esses espinhos que lhe dão a primeira impressão. Para alguns talvez a última. Mas há um caule, verde e frágil, por detrás desses algozes. Sempre há. É aqui que você conhece aquele que eu posso ser mais verdadeiramente. Quando conseguires cortar os espinhos, verá tudo aquilo que eu realmente sou, e não apenas o que eu desejo mostrar.

Tuesday, July 15, 2008

pro alto

Onde está tu a essa hora que a escuridão já engoliu a cidade? Porque ainda não chegastes em casa, se estava tão perto até pouco atrás? Sinto falta do calor de sua presença, meu filho. Sinto falta de te ouvir dizer que não demora, que chega logo.

A solidão se tornou costumeira nesses dias em que não te vi mais. Como você pôde apenas me sorrir de tão longe, de onde nem posso te ver? Mas não te assustes: logo mais tarde te farei companhia. Iremos nos encontrar como se fosse aquela primeira vez em que te vi saindo de dentro de mim.

O relógio já bate às três da manhã, quando, em meio aquele sonho, te vi voando sobre quatro rodas. Lá estava tu, de cabelos molhados, roupas rasgadas e sorriso no rosto. Que hora foi aquela em que, de repente, eu te perdi de vista? Não sei.

Sunday, July 13, 2008

quem te disse?

É, querida, eu não vou chorar por ter perdido o que nunca tive. Mas quem te disse que eu não tive? Posso nunca ter encostado um pêlo do meu braço, mas encostei todos os pensamentos possíveis que estiveram na minha cabeça.

E aquele carro que eu vi na vitrine e me imaginei dirigindo? Aquele prato saboroso que, só de lembrar, já dava para sentir o gostinho na boca? E, também, aquela gostosona de seios e bunda protuberantes que você viu na revista?

A gente só nunca teve aquilo que nunca quis.

bemad

'(...)
-porque só os loucos são livres, bárbara.
-sinceramente, não posso concordar. não sou louca e sou livre.
-não. tu é presa àquilo que te convém aceitar como normal. se assim não fosse, você largaria seu emprego hoje e ia comigo para São Paulo.
-ir para São Paulo sem perspectiva nenhuma, sem certeza do que eu posso encontrar? não, não..
-é isso que eu quero dizer quando digo que você não é livre.
-um dia tu vais aprender, léo. as coisas são não são fáceis para quem não aceita uma rotina.
-eu sei. eu poderia aprender isso de hoje para amanhã, e quem sabe mudasse de idéia. mas por enquanto, bá, eu vou. sem perspectiva nenhuma, sem idéia do que eu posso encontrar, sem saber, diabos, como eu vou comer, dormir ou viver lá. mas eu me viro.
(...)'

Friday, July 11, 2008

os trechos de uma história

- Não me importo em ser culpado pra você. Eu te amo.
- Ah, sem essa. – levantou o tronco e cruzou as pernas – Não sei se devo acreditar em você.
- E eu nem peço que você faça isso. Você é livre.
- É disso que eu tenho medo.
- De que? De ser livre?
- Não, dessa sua humildade, da sua tranqüilidade. Do seu respeito.
- Você não deveria ter medo.
- Mas não é medo de você. É medo de magoar você.
- Coisas inevitáveis essas, sabe? Todo mundo vai magoar alguém algum dia. A gente só precisa saber superar.
- Nunca vou esquecer você, aconteça o que acontecer.
- Não me interessa que você não me esqueça. Eu já fiz parte da sua vida. Faço, aliás. E isso me importa. Saber que em alguma página desse caderno de variadas folhas, meu nome foi escrito. Se você não lembrar, não interessa. Continuarei lá como sempre estive.

Thursday, July 10, 2008

em uma manhã eu leio tudo

os diálogos são mesmo interessantes, até porque meu quarto também tem cheiros e cabelos de outras pessoas. bem, meu antigo quarto, que tem mais da metade da minha vida.

da mesma forma, as fotos desbotadas, apesar de desbotadas, contam um pouco de história. e eu gosto de mantê-las assim. sem restauração. não é que as quero apodrecidas no canto da estante, mas as quero originais, com aquele gosto de bom momento.

uma árvore no sofá da sala não seria uma péssima idéia, ainda mais abaixo de nuvens de algodão. oh, seriam as nuvens todas feitas de algodão?

lembranças com cheiro de tempero. casa da tia, da irmã, da avó, e até da mãe, depois que a gente sai de casa. é o olfato apurado, que às vezes some com o cheiro do cigarro.

sou de virgem e também gosto de domingos, ainda mais dos domingos ao acaso, quando coisas inesperadas e nada programadas acontecem. será que alguém perdeu outro celular na porta do ônibus?

percebeu, criança?