Tuesday, January 29, 2008

Nunca houve uma mulher como Clarisse - 2ª Parte

Era um apartamento pequeno, – onde quarto, sala e cozinha ficavam no mesmo lugar – localizado numa das ruas daquele bairro periférico de nome indefinido. Cortinas encardidas tornavam a luz do sol impenetrável, fazendo com que a escuridão fosse abalada apenas pelo abajur vermelho.

Clarisse abriu a porta e entrou. A chuva fina havia deixado-a inteiramente molhada durante o percurso que fizera da parada de ônibus até seus aposentos. Deixou a bolsa em cima da mesa ao lado da porta e começou a se despir.

Sentou na cama, cruzando as pernas, e retirou da bolsa um maço de cigarros. Acendeu um, cerrando os olhos e soltando um longo suspiro. Seus pensamentos estavam além daquele apartamento. Lembrava de cada detalhe do dia que havia passado. Levantou-se e seguiu até o banheiro.

Olhou-se no espelho. Viu uma certa repugnância estampada em seu rosto manchado. Abriu o pequeno armário e de lá tirou uma lâmina. Trancou a porta – como se houvesse mais alguém ali que a pudesse ver –, abriu o chuveiro e sentou-se embaixo dele. Uma pontada de dor e um gemido suave.

A água fazia com que o sangue escorresse mais rápido.

sentimento marginal

os olhares de esperança assemelhavam-se às súplicas de perdão que ele evocava de dentro do peito. que não era o seu.

Monday, January 28, 2008

Nunca houve uma mulher como Clarisse - 1ª Parte

A noite havia caído por toda a cidade. Já não existiam resquícios do sol que passara por ali durante o dia. Alguns cachorros uivavam à lua, enamorando-a. Os carros movimentavam-se pela estrada, enlouquecidos, como que estivessem fugindo.

O bar ficava ali, à beira da estrada, solitário. Era um local sem pudores, sem preconceitos, onde ricos, moribundos, prostitutas, universitários, homossexuais e travestis se encontravam sem olhares recriminadores. A música, ambiente, mantinha o ruído de fora abafado. E todos podiam trocar palavras tranquilamente.

Ali estava Clarisse, sentada em um canto parcialmente escuro, escondida, lamentando-se. Era loira, olhos esverdeados, corpo singelo, de seios pequenos e nádegas protuberantes. Seu rosto sereno exibia as marcas do abuso sofrido. As lágrimas haviam borrado a maquiagem, e a face, antes magnífica, era nada mais que uma mancha de variadas cores.

Não sentia vergonha, era triste. Estava humilhada e ao mesmo tempo em que o ódio a consumia, sorria com o canto da boca. Olhava para os outros três cantos do recinto – onde sombras se faziam passar por pessoas escondidas – e sentia repúdio. Estava prestes a cometer outro crime.

Levou a taça à boca. Cerveja. Não tinha dinheiro para martini, vinho ou qualquer outro destilado. Mas a taça lhe dava um ar superior, daquele jeito que gostava de sentir. Agora não sentia arrependimento. As lágrimas secaram. Retirou algumas moedas da bolsa – já surrada após anos de trabalho – e colocou sobre a mesa. Levantou e andou em direção a porta.

Chovia fino.

Wednesday, January 16, 2008

areia, mar, algas e pensamentos além

é bom sentir a brisa do mar, com os pés cravados na areia, olhando pr'aquele azul que parece não ter fim. dá pra pensar, refletir e perceber tanta coisa que acontece. passo por mais uma prova na minha vida. daquele tipo que eu divido com um "antes" e "depois". pela primeira vez sinto vontade de morar em outra cidade - além de brasília, que não rio branco. a simpatia das pessoas é incomum. a tranquilidade. mas são férias, afinal. de qualquer forma, sendo férias ou não, o mar está sempre ali, aquele vento gostoso - faça chuva ou faça sol - também. esse é o primeiro post do ano, dezesseis dias depois que eu passei de meia noite com o pé direito. e continuo com ele. mas ano passado foi assim também, até o carnaval. eu só quero aproveitar enquanto tá tudo bem. se 2008 me trouxer mais decepções do que trouxe 2007, eu não sei o que esperar de 2009. mas, bem, isso é pra falar só nos últimos dias desse ano que começou a passar. aproveitemos enquanto é tempo. e não só eu que estou na praia. aproveitem o trabalho, a faculdade, façam o que gostam. tenham prazer em tudo o que fizerem, até mesmo aquelas coisas que vocês não gostam. quem sabe assim vocês não sorriam mais e sejam mais felizes?