"And it's over, and I'm going under
But I'm not giving up! I'm just giving in
Oh, slipping underneath
Oh, so cold, but so sweet
In the arms of the ocean, so sweet and so cold
And all this devotion I never knew at all
And the crashes are heaven, for a sinner released
And the arms of the ocean deliver me"
Florence + The Machine
Num primeiro momento a busca surge por influência da culpa. É necessário achar o que quer que seja responsável por aquela dor que tenta ocupar o lugar do sangue nas veias. Quando se perde alguém a sensação que fica, bem antes de se esmorecer de saudade, é que alguma coisa – qualquer coisa – poderia ter sido feita para evitar o luto, mas não foi. Se agiu-se certo de um lado, agiu-se errado do outro. Naquele primeiro momento não existem só certezas pessoais, mas dúvidas perante o alheio. E pior que a dor de uma certeza, é o sofrimento que gera uma dúvida. Arrepender-se de molhar os pés na água do mar num dia frio é arrepender-se de algo que pelo menos teve a coragem de tentar fazer. Arrepender-se da covardia dói mais que o choque da água gelada.
Quando você sai da areia e resolve arriscar-se no mar, é quase impossível prever se aquela onda vai quebrar realmente onde calculado. Quase. Porque é possível, sim. Assim como é possível que alguma coisa possa ser feita para evitar o luto, vez ou outra. Às vezes, ainda recompondo-se do mergulho fura-onda segundos antes, uma onda inesperada atinge o centro da cabeça e provoca um depósito de areia por todo o corpo. Não dava para prever. Às vezes não dá para prever. A mente é como o mar: traiçoeira. Um documentário sobre as manhãs em praias paradisíacas pode se tornar o registro mais fiel da devastação de um tsunami. Aquela injeção de autoestima pela manhã, em questão de segundos, pode transformar-se numa overdose de insegurança e desespero.
Às vezes, quando deixamos o corpo rente à superfície do oceano, somos calmamente levados mais e mais para longe. Alguns, devotos da segurança de tocar o solo arenoso com os pés, rumam os braços com força para a praia tão logo se percebem distantes. Alguns outros acenam sorridentes para que se encontra em terra firme, conheçam ou não. Estes até se aventurariam mar adentro, mas sozinhos não. São aqueles resgatados pela família, amigos e salva-vidas, trazidos de volta para o conforto dos pés no chão. Outros – bem poucos, no entanto, apenas sorriem para quem está em terra. Para eles o aceno é como um adeus e não se faz necessário. O sorriso, tão distante que na maioria das vezes se faz invisível, é uma forma de agradecer e ao mesmo tempo se despedir antes de virar-se novamente para o horizonte inalcançável. Estes não se conformam como a maioria por não poder tocar a tênue linha que separa o céu do oceano. Estes acreditam que isso é possível e partem rumo ao desconhecido para poderem provar isso a si mesmos.
A mente tem dessas coisas também. Algumas sabem onde encontrar a saída quando se percebem dentro de um labirinto. Outras precisam de pistas, atalhos e gesto ou outro de um ser maior que controla os caminhos. E tem aquelas que, já cansadas de tantas paredes desnecessárias, simplesmente escalam os muros e vão em busca de um lugar onde o único limite interposto seja o respeito perante outro alguém. Tem gente que se perde no mar, tem gente que se perde na mente. E perder-se, ainda que tão difícil de se entender, às vezes é justamente a única forma de se encontrar. Com alegria a gente se preenche. Com dor a gente aprende. E aprende quem vai e quem fica. Porque amadurecer é perdoar. É eivar-se do pecado cometido de forma que se dê paz à alma. Para que se possa entender que desistir, por vezes, é a única forma de se render. E que, quando isso acontece, não existe culpa.
Pode ser que um barco resgate aquele que se aventurou em alto mar. Pode ser que o vento se torne padrinho de sua existência e o leve para um cais em que possa descansar. Pode ser que arriscar-se no desconhecido abaixo da superfície dê mais sentido àquela busca que muitas vezes só descobrimos que existia ao encontrar o que não sabíamos estar procurando. Daquele primeiro momento até a libertação gerada por essa última percepção pode-se levar de dias a anos. Como também, afinal toda regra tem sua exceção, pode ser que nunca mais se deixe de fazer refém da culpa. Ainda assim, naquele período das férias de verão, é possível sentir o gosto da liberdade: aquele dia que a coragem toma conta e se deixa o corpo solto nas águas do mar. Por pouco tempo, mesmo retornando rapidamente para o conforto da areia, a instabilidade das ondas é responsável pela estabilidade da alma.
"- Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora..."
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora..."
Legião Urbana
No comments:
Post a Comment