Monday, September 22, 2014

trigenialidade

Era o primeiro encontro dos três. Chamou-se assim aquela hora e meia porque, ainda que em trio, era uma visão de casamento perfeito. Que fosse então o primeiro encontro. União estável sem sexo ou malícia. Em comum, além do gosto musical, o gosto pela vida. E a crença no amor, que não precisa ser só daquele que acelera o coração quando surge primeiro como paixão.

Dali veio o segundo, uma semana depois, mais íntimo e preenchido de segurança: confiança também se constrói pelos laços em comum que já existiam antes de se conhecer um outro alguém. Era ele o responsável por atar, mas eram elas as responsáveis por manter firme aquele laço de nó triplo. Laços assim não carregam exclusividade. Laços assim não carregam outra coisa que não a certeza de sua existência perfeitamente imperfeita.

Meses depois daquele primeiro encontro, aquele relacionamento a três foi celebrado em lua de mel. Um ménage a trois de palavras, vitórias, lágrimas, decepções, desabafos e anseios de alegria transmutados em sorriso. Estavam, ele e elas, rentes ao caminhar dos passistas no bloco à beira-mar. Era o gosto em comum pela música, era o gosto em comum pela vida. Olharam-se sorrindo, lado a lado, e deram as mãos para uma breve ciranda de roda que só eles sabiam a letra de cor:

“Vem, fevereiro, vem com alegria
Traz a paz, o amor, nossa companhia
No frevo, no axé, nos passos do samba
Esse amor a três é nossa fiel esperança...”

E naquele circular em meio à multidão – as vozes dos três abafadas pelo coro que seguia à beira mar, espalhando alegria pelo calçadão – das mãos entrelaçadas fez-se luz, raiando tão intensamente quanto o sol que se despedia daquele fim de tarde de verão. Um amor entre três gênios loucos. Trigênios: filhos de diferentes pais que se desenvolveram num mesmo ventre terrestre de luz.

No comments: