O Catraia é um coletivo de pessoas de várias áreas do conhecimento que enxergam a cultura como um meio de agregar, estimular, potencializar e realizar mecanismos capazes de escoar, integrar e difundir produções artísticas, educativas e culturais para o benefício da sociedade onde está inserido. Sistematizado como coletivo de cultura há sete meses, agentes culturais formam o Catraia, que por sua vez forma, com outros coletivos e grupos articulados, um circuito integrador da cultura independente brasileira, o chamado Circuito Fora do Eixo. Gerido empiricamente por um regimento interno que vem sendo formulado com e para a participação de todos os seus envolvidos, o Catraia é também um grupo aberto e heterogêneo, que vê não só na criação e aplicação de metodologias, mas também na pluralidade de seu quadro, o melhor meio de alcançar seu objetivo: o fortalecimento e solidificação da cultura independente no Acre e no Brasil.
Dentro de seu tempo de existência – e como toda agremiação que se propõe a realizar algo -, o Catraia enfrenta barreiras e dificuldades, assim como oposição por parte de pessoas que desacreditam e desestimulam a formação de um processo limpo e verdadeiramente livre, mas também capacitado e sustentável em benefício da Cultura, dos seus agentes e dos grupos que a fomentam. Faz alguns dias que nós, colaboradores do Coletivo Catraia, vimos transparecer críticas pouco válidas ao andamento desse processo. Algumas dessas críticas partem de pessoas que não tem conhecimento do que realmente é o Catraia e sua coletividade, tampouco de suas verdadeiras intenções. Outras, infelizmente, são feitas por pessoas que já tiveram um forte vínculo conosco e que por esse e único motivo, se acham no direito de deturpar o que viram e, principalmente, o que fizeram enquanto colaboradores do Catraia. Muitas dessas críticas são feitas de forma velada, através de sarcásticos e viperinos comentários, que não constroem, nem sugerem apontamentos relevantes para a melhoria das políticas de cultura comum a todos. Para nós, do Catraia, críticas desqualificadas não são novidade. Mas críticas desqualificadas feitas abertamente, sim.
Ignoram que até quando se pretende ser parcial e passional, é preciso ser primeiramente imparcial e racional
Travestindo plataformas de achaque como veículos de informação, alguns costumam alimentar a discórdia e a balbúrdia, através de afirmações sensacionalistas e perniciosas. É absolutamente compreensível que certas pessoas, alheias ao conceito, ao processo e ao trabalho do Catraia, se oponham a ele de maneira veemente por puro preconceito ou ignorância. Também é normal que essas pessoas elaborem seus pensamentos a partir de pré-concepções e argumentos truncados, envoltos nas brumas passionais do criticastro, disfarçando seus anseios escusos com falsas bandeiras de liberdade e igualdade. Essas pessoas ignoram que até quando se pretende ser parcial e passional, é preciso ser primeiramente imparcial e racional, pois nenhuma causa se mantém firme e válida sem o estudo e o conhecimento de seus contrários, sejam eles firmes, válidos ou seus antônimos.
As críticas desqualificadas feitas por essas pessoas, se apoderam das ações do Catraia, dos esforços feitos por seus colaboradores e se constroem com um único objetivo: desestabilizar os passos de quem caminha pela Cultura, através da coletividade e destruir qualquer tentativa de acerto. São críticas que ferem a autonomia e o direito de autodeterminação do Catraia e de seus parceiros, pois abordam de forma ferina e deturpada assuntos comuns a todos ali, muitas vezes ultrapassando as noções da boa convivência e da ética. Acusam o Catraia de ser sectarista e estratificador nas suas ações. Mas esquecem que as nossas portas sempre estiveram abertas, assim como os ouvidos dos que aqui estão. No Catraia somos a favor do debate. Ouvimos o que queremos e o que não queremos. Assim como somos estimulados a falar não só o que queremos, mas o que devemos. Ao contrário do que se afirma erradamente, a verdade do Catraia é feita da soma das verdades das várias pessoas envolvidas em seu processo.
O que chamam de sectarismo, nós no Catraia, e dos vários coletivos parceiros do Circuito Fora do Eixo, chamamos de seleção natural pelo trabalho. O que chamam de estratificação, nós chamamos de criação de métodos e de hierarquização de responsabilidades. O pensamento dentro do Catraia é livre, mas o caminhar é um só. Porém antes de andar, debate-se muito. E é através de debates, conversas e explanações, que chegamos sempre ao denominador comum (o consenso) que possibilita a todos nós colaboradores vislumbrar um presente e um futuro rico em possibilidades. No Catraia,a pluralidade de pessoas e, consequentemente, de idéias, assim como a diversidade de conhecimento e as diferentes realidades de seus integrantes fortalecem o grupo e seu conceito principal: a coletividade em prol da Cultura.
Algumas pessoas põem em xeque o conceito de coletividade do Catraia, acusando-o de ser seletivo. Essa afirmação em partes é verdadeira. O Catraia é coletivo pela cultura e seletivo pelo trabalho. Ironicamente esse tipo de afirmação parte de gente que não tem o costume de suar a camisa no Catraia em prol da cultura tão defendida verborragicamente por eles. E é através do trabalho que se adquire poder de argumentação. O alinhamento conceitual e político do Catraia é voltado para o trabalho. Do músico e sua banda, ao agente cultural e seus objetivos alcançados, tudo é pautado pelo labor. O Catraia é um grupo de pessoas alinhadas ao claro pensamento de que tudo no Acre é feito com um grau a mais de dificuldade. E que por isso mesmo tudo precisa ser feito com mais garra. Sabemos das dificuldades, limitações e anseios do nosso estado. Mas também sabemos de seu potencial. Creditamos e acreditamos nele.
Somos contra o pensamento 'farinha pouca, meu pirão primeiro' e batalhamos para erradicar posturas individualistas que atravancam nosso trabalho
Além de estimular as bandas, associadas ou não, através de ações pró-ativas, como o estúdio de ensaio e a assessoria de marketing, imprensa e publicidade, o Catraia busca formas de escoagem de produção, criando mecanismos profissionais para fomentar o trabalho da cena cultural independente de Rio Branco. Com recursos próprios e das parcerias, o Catraia discute e age para que a emancipação desse trabalho aconteça para outros pontos da sociedade e do estado, não se restringido a um pequeno feudo de atuação. Somos contra o pensamento "farinha pouca, meu pirão primeiro” e batalhamos para erradicar posturas individualistas que atravancam a ampliação do nosso trabalho engajado. Entre erros e acertos, nos capacitamos. Permutamos experiências e tecnologias. E estimulamos a participação das pessoas nos diversos campos da cultura. Não detemos fórmulas, nem protocolos, tampouco a verdade absoluta. Mas sabemos onde estamos e pelo o que lutamos. Pelo Catraia, aprende-se errando e erra-se aprendendo.
Embora algumas pessoas tenham optado por criticar os processos metodológicos que vêm sendo implantados internamente no Coletivo Catraia, para nós, catraieiros, nunca nos coube julgar ou condenar os processos utilizados por essas pessoas e seus meios e veículos de informação cultural. Sempre respeitamos e continuaremos a respeitar a dimensão conceitual e de auto-gestão de todos os projetos, veículos ou grupos que trabalhem com cultura, por acreditarmos que a pluralidade se dá com respeito e todo objetivo comum deve ser alcançado de forma coletiva. Também nunca coube ao Catraia analisar ou criticar tecnicamente uma banda. Para o Catraia toda banda, independente de seu estilo, tem importância, que é medida pelo trabalho, relevância e consistência de sua postura no fortalecimento da cena de música independente acreana e brasileira.
Ao invés de colaborar ativamente, alguns preferem fazer parte do Catraia de forma equivocada. De fora, posicionam-se velada e gradativamente contrários aos passos do Catraia pelo simples motivo de não entenderem o processo ou de não fazer parte dele ou por incapacidade ou vontade própria. Sem dúvida é uma forma pouco positiva de colaborar. Compreensível até certo ponto. Confuso a partir deste. Nenhuma dessas pessoas se mostrou interessada em complementar e seguir um método. Nenhuma delas se propôs aproximar-se e contribuir para a melhoria daquilo que considera equivocado. Usando um falso discurso de liberdade, para elas o trabalho depende de como, onde, por quanto e quando quiserem. Muito fácil. Mas assim o mundo não funciona. O que chamam de liberdade, nós chamamos de falta de bom-senso.
O Catraia se preocupa com a qualidade de seu trabalho, mas leva em conta o oneroso processo de capacitação de seus envolvidos
Não existe liberdade, quando ela vem com os dois pés no desrespeito. Não existe liberdade quando ela vem no grito, no recalque ou na falta de tato e consideração. Para o Catraia liberdade é um termo de extrema importância. Liberdade se constrói com respeito e trabalho. Trabalho enobrece o espírito. Espírito nobre eleva o corpo. Corpo elevado é liberdade. E é nessa estratégia que o Catraia firma seus passos. Capacita para o trabalho através da concretização da verdadeira liberdade – aquela que termina quando a do próximo começa. Prezando pela boa convivência, confrontamos dificuldades abertamente para evitar conflitos. E trabalhamos. O Catraia se preocupa com a qualidade de seu trabalho, mas leva em conta o oneroso processo de capacitação de seus envolvidos, respeitando as limitações individuais dos mesmos e estimulando avanços.
Para nós, do Catraia, cada um que está ali tem um porque de ali estar. E para cada um há, não só poder de voz, como também poder de ação. Batalhamos pelo entendimento disso, através do aprimoramento dos mecanismos de relacionamentos interpessoais. Repudiamos, interna e externamente, qualquer demonstração de desrespeito, individual ou coletiva, pública ou não. Repudiamos a violência passiva do boato e da fofoca. Assim como também repudiamos a sectarização e a estratificação. Batalhamos pela saúde nas relações, nos debates, nos confrontos e nos enfrentamentos. Acreditamos na pluralidade, na gestão pautada por métodos profissionais e na capacitação das pessoas através da cultura e de sua cadeia produtiva. Buscamos de forma soberana e parcimoniosa, o método ideal que alie trabalho com satisfação, diversão com engajamento social, conhecimento e cultura para todos.
Atenciosamente,
Janu Schwab – Gestor de Marketing e Estratégia, Rodrigo Forneck – Gestor de Produção e Eventos, Saulo Machado – Músico associado e Gestor de Sonorização, Jeronymo Artur – Gestor de Comunicação, Karla Martins – Gestora de Administração e Planejamento, Thays França – Secretária de Relações Institucionais, Diego Mello – Músico associado e Colaborador de Comunicação, Thalyta França – Sub-coordenadora de Produção, Kaline Rossi – Músico associado e Colaboradora de Produção e Eventos, Ana Helena de Sousa, Colaboradora de Produção e Eventos, Veriana Ribeiro, Colaboradora de Comunicação, Rodrigo Oliveira, Músico associado e Colaborador de Sonorização, Santiago Queiroz – Colaborador de Comunicação, Daniel Zen – Músico associado, Colaborador da Coordenadoria de Ação Política da ABRAFIN e Presidente da Fundação Elias Mansour, Renato Reis – Fotógrafo e Colaborador do Circuito Fora do Eixo, Pablo Capilé, Marielle Ramirez e Lenissa Lenza – Espaço Cubo (Cuiabá), Marcelo Domingues - Demo Sul (Londrina), Pablo Kossa – Fósforo Records (Goiânia), Thalles Lopes – Coletivo Goma (Uberlândia).