Wednesday, November 19, 2008

algo novo

Desceu a barragem e sentou-se próximo ao rio. Não era branco como denominava o nome da cidade dividida por ele, mas lhe dava paz. As águas barrentas, iluminadas pelas luzes do calçadão da Gameleira, corriam, como que fugindo de algo que estivesse a dobrar a curva lá atrás violentamente. Ele, então, fechou os olhos. Ouvia apenas o som da água. Ainda era cedo da manhã, e poucos carros passavam importunando aquele momento.
Sentia uma dor terrível cada vez que lembrava como tinha passado a noite. Nunca havia dormido com ninguém. Suas relações sempre foram simplesmente promíscuas – primeiro a chegada, depois o sexo, os beijos após o ato consumado, o banho e por último a ida para casa – e aquilo era novidade para ele. Mas sentia nojo. Um nojo incontrolável apenas pela lembrança daquelas mãos, daquele corpo colado ao seu.
Lembrava como havia saído correndo, depois de acordar e perceber o que acontecera durante aquelas últimas oito horas. Ainda assim, sentia pena. O que pensaria quando acordasse e visse que ele não mais ali estava? Agora a repugnância se misturava ao nojo. Era podre. Uma pessoa que não merecia um mínimo sentimento de misericórdia. De repente sorriu.
Estava confuso. A ficha começava a cair. Agora já não sabia como se sentia. Sorria, derramava lágrimas, batia em seu próprio rosto – o que pensariam aquelas pessoas que passavam caminhando lá no alto da gameleira ao ver um rapaz se batendo à margem do rio? –, e se embebedava em nojo, repugnância, tristeza e felicidade. Seria aquela a verdadeira sensação de liberdade?

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