Tuesday, November 18, 2008

expectativa

- Então, a gente pode se encontrar no restaurante?
- Pode sim. Acho uma ótima idéia.
- Quer que eu vá te buscar?
- Não, não precisa. Meu amigo vai sair e peço pra ele me deixar lá. Só vou querer carona de volta pra casa, tudo bem?
- Ah, ok. Até oito e meia então.
- Até.
Era a terceira vez que se falavam, apenas. Sempre diálogos curtos, sem muito conhecimento um do outro. Aguardavam pelo primeiro encontro para que não faltasse assunto. E, mesmo assim, ainda achavam que faltaria. Luís estava mais ansioso. Pra variar. Já tinham trocado olhares outras vezes, conheciam-se de vista, mas nunca tinham tido um contato pessoal.
Por volta das oito e meia, Luís já estava à espera de Rita. Sentado em uma mesa com duas cadeiras, ele tomava uma taça de vinho. Imaginava como ela seria, o que gostava de fazer, quem seriam seus amigos, se morava com seus pais. Não sabia como começar a conversar, afinal era a primeira vez que saía para algo assim.
- Boa noite.
- Oi Rita. Boa noite. Senta.
- Obrigada. Tudo bem com você?
- Tudo. E você, vai bem?
- Ah, claro.
- Então, você quer comer o quê?
- Hmm... Pensei em uma macarronada.
- Ótima idéia.
Chamaram o garçom e fizeram o pedido. Luís serviu a taça de Rita com vinho.
- Er, quantos anos você tem?
- 25 e você?
- 20.
- Novo heim?
- Ah, o que são cinco anos de diferença depois dos 15?
- É, idade não é nada. Cabeça é o que importa. Você estuda?
- Sim, faço faculdade.
- Trabalha?
- Também. E você, faz o que da vida?
- Bem, há um ano terminei a faculdade de agronomia. Agora estou fazendo pós e trabalhando em um escritório. Você faz faculdade de quê?
- Direito.
- E faz direito?
- Bem, não tanto quanto deveria.
- Você não entendeu...
Luís fez como se não tivesse entendido e mudou de assunto.
- Esse seu sotaque... Você não é daqui, é?
- Não, sou do interior de São Paulo.
- E mora aqui há quanto tempo?
- Faz cinco anos.
- Por conta da faculdade?
- Não. Tava afim de outros ares. Um amigo me falou sobre o Acre e eu tinha muita vontade de conhecer. Aproveitei a vinda, larguei a faculdade de Publicidade que eu fazia lá e resolvi cursar agronomia.
- Chutou o balde?
- Mais ou menos.
- Sou louco pra fazer isso.
- E por que não faz?
- Medo.
- Medo? De quê, rapaz?
- Sei lá. Sabe quando você quer se arriscar e não tem coragem? Seu maior desejo ficar par a par com seu maior medo? É mais ou menos assim.
- Ah, Luís. Você não pode ser assim. Temos que vencer nossos medos.
- Eu sei. É isso que eu estou fazendo agora, aqui com você. Estou vencendo meus medos.
- Fico feliz em saber disso – Rita sorriu sutilmente, sem graça.
- Seu sorriso é bonito.
- Obrigada.
O jantar chegou e os dois preparam-se para comer. Luís criou coragem e se atreveu a perguntar o que queria há algum tempo:
- Você é comprometida?
- Será que eu estaria com você aqui, jantando, se fosse?
- Ah, algumas pessoas fazem isso tranqüilamente.
- Então espero que a partir de hoje você perceba que eu não sou como as outras pessoas.
- Desculpa.
- Não, eu entendo. É a primeira vez que você sai assim com alguém, não é?
- É – respondeu ele, abaixando a cabeça com vergonha.
- Não sinta vergonha. É bonito. E, sei lá, fico lisonjeada que seja comigo.
Enquanto comiam, eles trocavam alguns olhares, rindo das bocas meladas com molho do macarrão. Levaram cerca de meia hora para terminar o jantar, pedindo a conta em seguida.
- Você quer mesmo ir direto pra casa, digo, quer dar uma volta?
- Não, acho que prefiro ir pra casa mesmo.
- Ah, tudo bem – ele consentiu meio entristecido.
Rita explicou o caminho e eles continuaram a conversa, agora já falando de família, viagens, ex namorados e namoradas, e do dia-a-dia na cidade natal de Luís. Chegaram em frente ao prédio onde Rita morava:
- Obrigado pelo jantar, você é uma pessoa adorável.
- Não quer entrar?
- Não seria incômodo?
- Estou sozinha. A mim com certeza você não incomoda.
- Hehe, ta certo.
Os dois subiram as escadas, calados. Aquela era a hora onde não se sabia o que viria depois. Era imprevisível o que aconteceria depois da porta do apartamento. E eles dois sabiam disso.
- Você quer alguma coisa, uma água, um vinho? – ela perguntou educadamente.
- Você.
Os dois entreolharam-se. Até mesmo Luís se impressionou com a facilidade com que havia dito aquilo. Rita estava ansiosa por aquele momento a sós. Ele puxou-a para mais perto e deu-lhe um beijo. O primeiro. De repente a coisa ficou mais quente. Os corpos colados encostados na parede. As mãos de um perdidas, sem parar de se mover pelo outro. Agora, mais do que nunca, Luís sabia qual seria seu futuro.

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