Monday, November 24, 2008

sonhando

- E por acaso eu te conheço?
- Aparentemente não. Mas isso é um problema?
- Não sei.
- Bem, suponho que não, afinal estamos aqui para conhecer pessoas, não é?
- Eu não freqüento esses lugares para conhecer pessoas, apenas para dançar.
- Quero dizer que estamos aqui, nesse mundo, para conhecer pessoas – disse enquanto apontava o dedo para baixo.
- Isso quer dizer que eu sou obrigado a conhecer você?
- Não, de forma alguma. Mas eu posso querer conhecer você. Então façamos o seguinte, eu te pergunto tudo e você não me pergunta nada. Aí eu te conheço e você não me conhece. Assim ficamos todos felizes, o que acha?
- Eu não acho nada. Só não tenho interesse em conversar agora.
- Tudo bem, eu espero. – ficou calado por cinco segundos – E aí? Já?
- Acho que quanto mais rápido eu responder suas perguntas, mais rápido você vai embora, né?
- Talvez. Mas talvez daqui a pouco você nem queira que eu vá embora mais.
- Veremos.
Felipe perguntou tudo o que queria saber à seu respeito. Onde havia morado, se era casada, se tinha namorado, filhos, um cachorro ou um gato. O que gostava de fazer em seu tempo livre, com o quê trabalhava, se ainda estudava. A conversa foi sendo tão construtiva que ela começou a interagir com ele, deixando de apenas responder perguntas. Começou a contar histórias de sua vida, perguntou sobre a vida dele. Ao invés de dançarem, passaram a noite conversando, sentados em um local afastado da enorme concentração de pessoas que se mexiam de um lado para o outro.
- Bem, vou indo.
- Mas já?
- Você queria que eu fosse embora rápido. Já demorei mais do que deveria, não é?
- Fica. Desculpa minha arrogância.
- Tem certeza?
- Na verdade eu preferia que nós fôssemos embora.
- E nós vamos pra onde?
- Não sei. Vamos dar uma volta. Você está de carro?
- Não. Pedi que um amigo me deixasse aqui.
- Já sabia que ia me encontrar não é?
- Tinha esperanças.
- Bem, eu to no meu carro. Vamos?
- Claro.
Os dois deram algumas voltas, conversando sobre planos futuros, trabalho e faculdade. Felipe não conseguia pensar direito. Achava engraçado estar onde estava, sendo sempre tão pessimista como era. Nunca achou que fosse ter aquela oportunidade e, de repente, estava ali, ao lado de alguém com quem sonhara estar.
- Você pode me deixar em casa?
- Já?
- Sim, preciso ir. Já são quatro horas da manhã. Minha mãe deve estar acordada me esperando.
- Onde você mora?
- Aqui perto. Pode ir por ali.
Ao chegarem em frente à casa, os dois ficaram imóveis. Olhavam para os pés, sem saber o que dizer. Felipe, achando-se corajoso ao extremo, resolveu quebrar o gelo do silêncio:
- Er.. – falaram os dois ao mesmo.
- Pode falar.
- Não, pode falar você.
- Tudo bem. É que eu queria agradecer a oportunidade.
- Que oportunidade?
- De responder minhas perguntas.
- Eu que agradeço por você não ter desistido.
- Eu não desistiria tão fácil. Quando eu quero alguma coisa eu corro atrás o máximo que eu posso.
- Bem. Acho que não será mais necessário correr tanto assim. Agora estamos lado a lado.
Felipe corou. Sem saber o que dizer foi abrindo a porta do carro.
- Espera.
- Fala.
- Vem aqui.
Ela chegou mais próxima dele...




- Felipe! Felipe! São sete horas! Você vai se atrasar.

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