Tuesday, December 07, 2010

primeiro, segundo, terceiro... sabe lá qual capítulo!

Era uma terça-feira, daquelas que não é feriado, mas poderia ser. Aliás, para Mariana era feriado. Aliás, feriado era como ela chamava. Na realidade era folga do trabalho. Sua chefe a tinha liberado para que ela fosse ao centro da cidade procurar tecidos, o que causou uma certa indignação das suas colegas de trabalho, não fosse pelo simples fato que ela queria fazer seu vestido de noiva. Coisa mais linda, pensava ela, quero meu vestido simples mas de bom gosto. E ela tinha bom gosto. A Tecidos Cuiabá e a Casa Natal eram as duas lojas onde ela poderia conseguir algo. Mas na realidade estava pensando em ir até Goiânia, ou São Paulo, ou bem ali em Porto Velho, para ver se achava algo mais moderno, mais barato, e do jeito que imaginava. Por enquanto restavam as lojas de sua cidade. E ela tinha preconceito com elas. Aliás, Mariana tinha preconceito com quase tudo que tivesse a ver com sua cidade, Rio Branco. Suas opiniões a respeito daquele lugar nem deveriam ser levadas em consideração se alguém pedisse informações: Eu odeio esse lugar, diria ela.

Rio Branco, na verdade, era a capital de um estado que, como muitos dizem, lutou para ser brasileiro. Na realidade, como muitos outros dizem, não foi bem assim. No meio da história rolou algo sobre dois milhões de libras esterlinas, construção de estrada de ferro e límitrofes territoriais. Mas isso não importa. Já era ano 2000 e alguma coisa e o que se importa dizer é que a cidade tinha crescido bastante. Os pontos turísticos na cidade não era lá essas coisas, mas, sim, era bonito de se ver. Muitos deles tinham relação com o passado, com a história do estado. Raros eram aqueles monumentos recentes, construídos ali no meio de uma praça ou no meio da mata. De uma certa forma, era caótico morar ali. De diversão algumas poucas casas noturnas, uns barzinhos, uns botecos, e alguns restaurantes. Um cinema meio que caindo aos pedaços, um shopping que há anos se arrastava para ser construído. E quando Mariana dizia que odiava o lugar, era, nada mais nada menos, isso que a incomodava: diversão. Não era tão caseira como alguns achavam. Na realidade eram as opções escassas que a deixavam em casa. Pub? E o povo sabe o que é Pub? dizia quando mais um barzinho aderia a essa categoria.

Naquela terça-feira a ansiedade tomava conta dela. Se achasse ao menos o tecido para fazer o véu já ficaria feliz. A amiga, Amanda, estava lá como sempre, ao lado dela. Era amiga para todas as horas, para a alegria e a tristeza. Para Amanda definitivamente aquela terça-feira não era feriado. Muito menos folga. Estava com o ponto do trabalho cortado por falta mesmo. Mas era amiga, oras. E amiga pra todas as horas. Seria, claro, a madrinha. E, como toda madrinha que se preze, seus serviços começavam antes de assinar aqueles papéis como testemunha da união dos pombinhos. Mariana nutria um amor por Amanda tão forte que, por dentro, pensava que tinham sido feitas uma para a outra. Pena que não era lésbica. E, bom, graças que Amanda não era lésbica também. Se sentia prazer com tantos homens, imagine como seria sua vida fazendo sexo com aquelas que sabem melhor onde dar prazer a uma mulher. No seu mais ínfimo pensava mesmo é que deveria casar com Amanda e não com Vinícius.


[quem se dispor a colaborar comigo, estou de olhos abertos para ler as sugestões de como prosseguir, ok?]

Tuesday, November 30, 2010

Prólogo

Não se faz necessário contar minuciosamente como estava aquele dia. Não é importante para a história. Mas, tendo em vista os acontecimentos, é importante que se tenha uma idéia. Era sexta-feira, talvez uma como outra qualquer. O céu escureceu mais cedo, nuvens cinzentas, um sereno bastante sutil se comparado aos temporais que vinham acontecendo naquele mês de novembro. Algumas poucas pessoas com guarda-chuvas, outras tantas correndo, aflitas com qualquer gota mais forte que pudesse cair do céu.

O prédio era amarelo, com três andares e janelas gradeadas. Nunca tinha percebido, mas olhando agora parecia um hospital psiquiátrico que não queria parecer um hospital psiquiátrico com aquela placa de bem vindo na porta de entrada. Estava, ainda, dentro do carro. Mãos suando, corpo tremendo, boca seca. Medo. Era exatamente dezessete horas e dezessete minutos. Rezava a lenda que quando se olhasse no relógio e a hora fosse exatamente igual aos minutos, devia-se fazer um pedido. Seja o que Deus quiser.

Saiu do carro. Dirigiu-se à porta de entrada, suspirou profundamente e entrou. Àquela hora só a atendente e uma grávida. Laboratório quase vazio, a novela das cinco na televisão, atendente de cinqüenta e sete anos com aquela cara de poucos amigos, louca para que chegasse a bendita hora de fechar tudo e ir pra casa. Ficou estagnado, sem saber se perguntava ou se dava meia volta. Era uma situação da qual não adiantava fugir. Uma hora ia pegá-lo. Resolveu.

Vim buscar um exame. Qual o seu nome? Vinícius. Vinícius de quê? Lima Barreto, ta aqui o protocolo. Hm, só um minuto. A senhora impaciente para ir pra casa discou um número no telefone e ditou o número escrito no papel que ele tinha entregado. Desligou. Você pode aguardar um momento? O médico quer falar com você. Vinícius sentiu seu sangue gelar por todo o corpo. Por um momento pensou que iria desmaiar, mas conseguiu alcançar uma cadeira e sentar. O médico? pensou. Pro médico querer falar comigo é porque não são boas notícias.

Sua cabeça começou a dar reviravoltas. Começou a castigar-se mentalmente: porquê? Como pude fazer isso comigo? Onde estava com a cabeça? Meu Deus, por favor, me ajuda. Meu Deus, me perdoa por qualquer coisa. Meu Deus, qualquer castigo, menos esse. Como eu fui confiar? E eu? E eu? E eu, onde fico? Olha o que eu fiz comigo. Puta que pariu, que merda. O quê que eu vou fazer agora? Minha vida acabou. Minha vida acabou. Minha vida acab...

Pouco mais de cinco minutos depois, a atendente com cara de poucos amigos pediu que ele a acompanhasse. Seguiram por um corredor que, em outro momento, talvez não aparentasse aquela morbidez que exalava dele. Sentia frio na espinha, sentia medo, arrependimento. Eram tantos sentimentos misturados que não sabia como lidar com eles. Só sabia que sua vida estava prestes a mudar. E que jamais voltaria a ser o mesmo Vinícius. É aqui, pode entrar.

O consultório era bonito, limpo, organizado. O médico estava sentando por trás de sua mesa, com as mãos entrelaçadas em cima de um envelope que, ele tinha certeza, era o seu exame. Olá Vinícius, tudo bem com você? Não sei, está? Bom, precisamos conversar. Doutor, por favor, antes de qualquer coisa me diga: eu vou morrer? Não, rapaz, sente-se vamos conversar. Se essa conversa é sobre remédios e como atrasar a morte, eu prefiro simplesmente que o senhor me dê esse envelope e me deixe sair daqui. Silêncio.

Friday, November 26, 2010

Convivência

Foi na feira de livros infantis que a viu pela primeira vez. Dali a cinco anos estariam casados, com dois filhos e insuportavelmente dividindo a mesma casa. Se soubesse disso, não dos filhos, jamais teria parado para perguntar se ela já tinha lido O Pequeno Príncipe. Foi amor a primeira vista, garantiram. Mas a convivência é mesmo uma merda. E ela passou a se incomodar com as cuecas jogadas fora do cesto de roupa suja. E ele passou a se incomodar com a tampa do vaso sanitário sempre fechada. Era pasta de dente apertada em qualquer lugar e louça suja por um dia inteiro em cima da pia. Se soubesse de tudo isso, que chegariam a esse ponto, jamais teria contado a história d’O Pequeno Príncipe, quando ela respondera que nunca o tinha lido. Casaram na igreja mais bonita da cidade, e mais antiga também. Tinham amor para a vida inteira, como diziam. Tinham cativado um a outro e eram ambos responsáveis por isso. Mas a convivência, lá vem ela, os tornara tão desconhecidos quanto antes de trocarem as primeiras palavras naquela feira de livros infantis. Ela, sabedora de tantas coisas, resolveu deixar a vida levar para o caminho que desejasse. Ele, que sempre fazia tudo o que ela queria, concordou e seguiu assim. Mas as revistas de moda espalhadas por toda a sala, e a televisão sempre ligada no SporTV começaram a não só torná-los insuportáveis um com o outro, mas com todos os outros. Não recebiam mais visitas e sequer dormiam no mesmo quarto. Mandaram os filhos passarem férias com os avós. O pai dele e a mãe dela. Cada um com um para, pelo menos aí, não se desagradarem. Ele resolveu sair de casa, não ia criar caso por causa de um sofá velho presenteado no casamento. Ela, naquele dia, resolveu ir dormir na casa da melhor amiga. A casa ficou vazia. Sem desentendimentos, sem crianças, sem pais, sem amor. Ele decidiu que realmente ainda não estava preparado para iniciar um novo relacionamento. Olhou bem para aquela moça na feira de livros infantis, mas depois de vivenciar mentalmente como estariam dali a cinco anos, devolveu O Pequeno Príncipe para a prateleira.

Wednesday, October 20, 2010

pra você

Sinto a dor anestesiar minhas entranhas, como uma lâmina que corta sutilmente os pulsos de um suicida famigerado. Uma dor que nunca foi tão profundo dentro de meu corpo. Sinto o coração apertado, o peito doendo, as mãos trêmulas como uma bandeira fincada no topo de uma montanha. Mas de que adianta passar base sobre a ferida, se ela ali permanecerá? Quero um remédio que cure a dor, que cure o aparente, mas talvez nem nas melhores farmácias se encontre algo que faça efeito em vinte e quatro horas. E na farmácia cerebral, então, é que não existe mesmo.

Como te dar certeza, como te prender a mim, se eu não sei? Se não sou sabedor dessa coisa que ainda chamo de mente. Escura mente. Indecifrável mente. Estúpida mente. Como te segurar com minhas mãos, te pedindo que não vá, se não tenho pássaros em gaiolas e os prefiro ver livres para pousar onde acharem que devem? E como não te dizer que te amo se, definitivamente, é o sentimento que me corrói inteiro por dentro? Como te dizer que não te quero, se com meu corpo e alma é isso que desejo? Como posso ser egoísta a tal ponto de te querer pra mim, mas não poder me doar como, indefinidamente, eu gostaria?

Sinto minha voz rouca, meus cabelos desgrenhados, meu corpo desfalecendo à simples percepção de que deixar ir pode significar nunca mais voltar. Sinto minhas mãos abraçando o vento enquanto durmo e tenho sonhos que outrora foram reais. Sinto-me extasiado, demasiadamente cansado, copiosamente lacrimejando ao mero sinal de que o nunca mais não existe pra mim, mas que nada é igual pra todo mundo, e que essa deve ser a conseqüência para as coisas da vida pela qual você se arrisca. Mas e não saber, e não saber, e não saber?

Como resistir à tentação de não te ligar, de não te enviar um torpedo ou de simplesmente olhar em seus olhos? E como olhar em seus olhos, em meio a essa luta interna de sentimento, e dizer que não consigo, que não posso, enquanto quero me jogar nos teus braços, beijar a tua boca e deitar no teu colo? Não posso fingir que você não existe e não me sinto capaz de perceber que pra você eu não existo mais. Será isso o necessário? Será que você vai me apagar, me esquecer e pensar que eu realmente já não existo mais?

Meu Deus, me ajuda. Me ajuda a compreender cada movimento, cada pensamento, cada pedacinho de angústia que insiste em reinar aqui dentro de mim. Me ajuda a resolver os problemas, os momentos de infinita solidão mental, as questões cruciais que me envolvem neste momento. Meu Deus, por favor, não me deixa sentir tanta coisa ruim como eu senti nos últimos dias. Me ajuda a superar as dificuldades, os anseios, as dúvidas. Eu peço clemência. Minha punição já dura demais. Ou será que eu ainda preciso sofrer tanto? Ou será que é necessário ainda mais provações, para que o Senhor possa finalmente perceber que eu já paguei pelos males que causei outrora a qualquer um que tenha sido? Isso é o purgatório? Isso é o inferno?

Tuesday, October 19, 2010

a solidão

No rádio tocava a música que fizera parte daquela história. Mas, antes que pensem o contrário, não era uma história de amor. Dizia respeito, mais que qualquer outra coisa, à solidão. Há um ano e meio, ele mudara para outra cidade. Alugou um apartamento pequeno, na periferia e conseguiu um emprego na pizzaria em frente a praça próxima ao condomínio. Pagava poucos reais pelo mês, tinha que lavar a própria roupa e, de vez em sempre quando acabava a água, o banho era compartilhado na área da piscina. E apesar de possuir uma piscina, não quer dizer que ela era utilizável: água verde, muitas folhas e ninguém para limpar. A música que tocava no rádio foi lançada no dia em que chegou naquela cidade nova. Era, inclusive, de uns cantores locais, desconhecidos dele anteriormente. Falava algo sobre como sobreviver sozinho e, ao final, passava uma mensagem de esperança. Ele era meio viciado em qualquer coisa referida a auto-ajuda. Esse vício, ele sabia, tinha carregado da mãe. Sua vida inteira foi regada a livros daquele tipo. Era só o que lia. Nunca tinha se interessado por um Drummond, Veríssimo ou Lispector na verdade. Sentado na sacada - com um livro de auto-ajuda no colo - ele fechou os olhos e lembrou de cada detalhe significante em todos aqueles prováveis quinhentos e quarenta e oito dias. Ou melhor, tentou lembrar. Não existia um detalhe significante sequer. Ele mesmo decidira não guardar mais lembranças. Vivia cada dia como se seu último fosse, esquecendo qualquer coisa que acontecera anteriormente. Apagou da sua mente tudo o que viveu antes de partir de sua cidade natal. Não tinha mais família então não precisava sentir peso na consciência por não ligar para a mãe. E quanto aos amigos, deixou-os de lado. Decidiu que daquele jeito seria melhor. Ele apagaria todos de sua mente e consequentemente todos se esqueceriam dele. Ao fim da música a campainha do apartamento tocou. Ele não tinha pedido pizza, nem remédio, nem qualquer outro delivery, então realmente não imaginou quem fosse. Nem laços ele tinha formado com ninguém, então não podia ser ninguém do trabalho. Devia ser algum vizinho querendo ajuda. Abriu a porta:

- Oi.
- Oi. Co... Como você me achou aqui?
- Eu sempre te acho, rapaz. Dá licença, deixa eu entrar – e, carregando a mala, ela adentrou o apartamento antes mesmo que ele permitisse.
- O que você ta fazendo aqui?
- Ah, idiota! Para de querer ser solitário. Tu não nasceu pra isso não. Eu heim, nunca vi. E nem me venha com suas manias maníaco-depressivas que pra mim isso é tudo balela.
- Ma...
- Puta que pariu, Carlos! Lendo auto-ajuda de novo? Cara, acorda pra vida!
Ele não respondeu. Abaixou a cabeça e seguiu para o quarto.
- Epa! Pode voltar aqui, já falei pra você não vir pra cima de mim com essas suas loucuras.
- Eu só quero ficar sozinho, será que eu posso?
- Não.
- É minha casa. Você entra na minha casa assim, e ainda quer criticar o que eu ando ou não fazendo?
- Ah, deixa de ser mimado, cara! Vem, vamo descer, tomar um chopp, sei lá, qualquer coisa.
- Não.
- Então ta, vai lá pro seu quarto que eu vou descer, comprar uma caixinha daquela redondinha e volto pra cá.
- Ok.
- Não me venha com esse ‘ok’ de desdém, porque eu te conheço e é claro que vou levar a chave comigo, se não não consigo tomar um banho ou trocar de roupa depois.
- Tá sem água.
- Então tu vai ficar sentindo meu cheirinho agradável de MaCherrie.
- Ainda esse perfume?
- Claro, ué! Quem achou que precisava dar uma reviravolta na vida e esquecer de tudo foi você, não eu. Ah! Deixa eu ir logo e acabar com esse papo furado. Volto já.
Pegou a chave da porta e trancou o apartamento por fora. Ele não sabia o que fazer. Pensou em pular pela janela e fazê-la se sentir culpada. Mas ele não queria morrer. Ele só queria ficar sozinho e ela ia ter que entender isso. Decidiu. Ia realmente mandá-la embora. Ficou sentado no sofá, esperando ela voltar e quando chegou:
- Eu quero que você vá embora.
- Aham, ta, eu vou, mas você quer uma cerveja antes?
- Não.
- Ah, deixa de frescura, porra. Toma logo aí. – abriu uma lata de cerveja e colocou na mesa em frente a ele.
- Olha só, você quer que eu vá embora, eu vou. Mas antes, deixa eu te dar uma coisa.
- Não quero.
- Tá bom! Para de retrucar o que eu falo, cara! – abriu a mala e puxou um CD – Oh! Comprei no aeroporto. É uma banda daqui, nunca ouvi falar, mas tava rolando o som na loja e eu achei meio parecido com você. Mas antes de te entregar, preciso te dizer: pedi licença do trabalho. Não vim pra ficar aqui no seu apartamento, não. Aluguei um quarto num albergue aqui pertinho por duas semanas. Eu te conheço, Carlinhos. Sei que você precisa de um tempo, mas acho que esse tempo já deu. Vou ficar aqui por perto caso você queira conversar ou enfim, fazer qualquer coisa. Se não quiser, também, não tem problema, vou te respeitar. Mas escuta aí. Acho que vai te fazer bem.
Ela largou o CD na mesa, embrulhado em papel de presente, fechou a mala, seguiu rumo a porta e saiu. Ele permaneceu estático, não disse uma palavra e o único movimento que ousou fazer foi virar a lata de cerveja inteira dentro do jarro vazio ao lado do sofá. Voltou para a sacada e continuou a ler seu livro. Mas, sempre muito curioso, ele não se agüentou. Rendeu-se: foi até a geladeira, pegou uma lata de cerveja e resolveu ouvir o que ela tinha deixado pra ele. Qual não foi sua surpresa ao perceber que ela o conhecia bem melhor do que ele mesmo. O CD era de uns cantores locais, desconhecidos anteriormente dele, que tocavam uma música que falava algo sobre como sobreviver sozinho e, ao final, passava uma mensagem de esperança.

Monday, October 18, 2010

devassa

Nunca me apaixonei de verdade, mas sempre gostei de sexo. E o fato de dar para o primeiro cara que encostasse suas mãos em meus seios não me tornava uma puta. Eu não era puta, não cobrava para transar. Transava várias vezes ao dia com vários caras diferentes. Mas o fazia por prazer. Se isso me tornava uma puta é mera conseqüência de quem você queria ser.

Não, eu não era uma puta. Você pode até dizer que sim, mas isso também não me interessa. Na verdade a única coisa que me interessava eram tão somente meus prazeres carnais. Nunca me preocupei com sentimentos alheios. Meu único interesse era gritar, te arranhar por inteiro e gozar. Ver as estrelas que estavam na minha cabeça era puro resultado de tantas substâncias que tomavam parte do meu corpo àquelas horas.

Até que um dia perdida a mente ficou. Me apaixonei pelo seu corpo, pelos seus lábios, por tudo o que você acabou fazendo sentir no meu âmago. Pela primeira vez me apaixonei pelo sexo. Não me apaixonei por você, pelo que você era ou deixava de ser. Me apaixonei pelo que o seu membro me fez sentir ao penetrar-me. Foi diferente, de uma magnitude extrema. E foi ali então que, pela primeira vez, eu soube o que era sexo com amor.

apenas as lágrimas

Minhas mãos não me pertencem mais. Pertencem a todas as outras mãos que segurei depois que você as soltou sem piedade nenhuma. Mas não queria sua piedade. Queria seu amor, sua dedicação, a plenitude de um afago em meus cabelos loiros. E você soltou minhas mãos na beira desse penhasco, quando eu mais precisava ser reerguida.

Minha boca não me pertence mais. Pertence a todas as outras bocas com as quais a toquei depois que me beijastes pela última vez. Sem remorso, sem peso na consciência. Só com dor. Minha boca já não chama seu nome, já não sabe mais o seu nome, ela sequer lembra o sabor que sua língua tinha quando a penetrava fervorosamente.

Minha vagina não me pertence mais. Pertence aos outros. A todos os outros com os quais dormi depois que você saiu porta afora e não voltou mais. A todos os corpos a que me entreguei quando percebi que a chance da sua volta não era nada mais que uma estúpida desesperança minha.

Minha alma não me pertence mais. Pertence a tudo aquilo em que acreditava antes de você partir. A única coisa que ainda me pertence são as lágrimas que você fez brotar quando olhou profundamente em meus olhos e disse que não me amava mais.

não quero que leiam

Não quero que leiam, que releiam ou façam seus meus versos, minhas palavras, meus sonhos impossíveis transformados em pequenas nuvens negras sobrevoando os céus de tantos corações. Não me convidaram a participar do baile de máscaras, porque não poderiam encarar minha própria sinceridade prostrada nos olhos. Baile de máscaras, ta bom. Essa vida sim. Essa vida medíocre que me convida a dançar é um verdadeiro baile de máscaras. Tantos quantos se desfazem em lágrimas depois de passar pasta de dente sob os olhos. E pra quê? Para que se tenha pena. Prefiro minha sinceridade por baixo dessa máscara estúpida que me chamam de face. Não tenho face, nem corpo, nem alma. Sou aquilo que ninguém vê. E não me interessa se são homens, mulheres ou crianças. Piedade não se carrega no nome. Se carrega no ser. E eu não sou. Não carrego nem faço questão de querer. Não tenho piedade. Nem de mim sobra nada a se ter.

me toma nos braços

Me toma nos braços sua cadela desgarrada de sentimentos. Continue a fingir que eu não existo, mas me toma nos braços. Eu sei que você não me quer, mas eu quero você e te desejo com minhas raízes mais profundas fincadas a terra. Eu sinto teu perfume até mesmo vindo debaixo das sujas ruas desta cidade que já não faz sentido sem você. Não venha dizer que sou herói se meu cavalo não fala inglês. Ser herói é conseguir viver sem você, é conseguir me deixar de você. E até hoje, sua filha da puta, depois de tanto tempo, de tantos anos, de tantas décadas, ainda me vejo viciado em você como na mesma época estava na heroína. Já fazem vinte anos e é como se existisse seu fantasma dentro da minha casa. Não consigo outra que me faça tanto mal, e é do que gosto. Gosto que me faça mal, que me faça sofrer, que me faça ser dominado. Gosto de me sentir um cão mal tratado, com dono de hábitos cruéis. Me toma nos braços e me faz escravo mais um pouco desse sentimento que me atormenta da alma aos joelhos. Me deixa beber dessa água podre de onde tu me banhas. Estou fadado a te querer pra sempre, e me sentir como mais um dos seus troféus. Daqueles troféus que você esconde na última gaveta da estante, com vergonha de ter recebido. Continue a me ter com vergonha. Tenha a minha vergonha. Tenha tudo o que me pertence. Porque tudo que é meu te pertence. Me maltrate. Mas me toma nos braços.

Friday, October 15, 2010

antes da cegonha me dar uma carona

- Filho, vem cá, senta aqui no meu colo. Olha só, antes de tudo eu preciso te contar uma historinha. Não vou dizer o que você deve ou não fazer, porque isso você vai aprender por si só. Mas quero deixar bem claro algumas coisas pra você.

Quando você chegar lá, vai perceber que tudo é lindo e maravilhoso. As cores, os animais, os próprios seres semelhantes a você. Você vai ficar maravilhado com toda e qualquer coisa que aparecer na sua frente. Vai ser tudo novo. As primeiras pessoas que você vai conhecer vão ser aquelas que irão te acompanhar até o fim da vida. Ou da sua ou das delas. A primeira pessoa que você vai enxergar bem fundo vai ser a primeira prova de amor na sua vida. Essa fase vai durar bastante tempo. Mas, infelizmente, pra você vai ser como um piscar de olhos. E aí, quando você menos esperar, passou. Nesse meio tempo você vai conhecer pessoas. De todos os tipos e tamanhos. Pessoas más e pessoas boas. Pessoas ingênuas e pessoas espertas. Algumas espertas até demais. Algumas vezes você será traído. E as vezes serão as pessoas boas que farão isso. Não é culpa delas. Quero que você aprenda que nem tudo na vida deve ser culpa de alguém. Nem sempre haverá um culpado para todas as situações. E você vai sentir tudo. Você vai ser um potencializador de sentimentos. E vai ser frágil também. Não muito, mas o suficiente para sofrer algumas vezes. Você não será feliz o tempo inteiro, mas tudo te servirá como aprendizado, como crescimento. Será magro apenas nos primeiros dias. Mas vai ser o seu estereótipo mais ou menos incomum que te deixará tão cativante. Claro que não vai agradar a todo mundo. Mas agradará o suficiente para nunca se sentir sozinho. Nunca esqueça isso: você nunca estará sozinho. Já existem pessoas lá que te esperam. E vão chegar outras daqui um tempo, pelas quais você já estará esperando. Sem saber, é claro. Na hora certa você vai saber quem são. E ser gordinho, você vai perceber, vai deixar suas bochechas gordinhas e todos vão querer apertar. Vai chegar um tempo que você vai deixar todas essas pessoas um pouco de lado. Mas não esqueça: tudo te servirá como aprendizado, como crescimento. E, é certo, o bom filho à casa torna. Já é chegada a hora, são dez e meia da manhã. Daqui cinco minutos. Mas, antes que você vá, deixe uma coisa bem clara na sua mente: nunca é tarde.


E foi assim que eu me recordei da primeira conversa que tive com Deus, antes de olhar bem fundo nos olhos da minha mãe.

Thursday, October 14, 2010

muros

A moça de olhos puxados olhava ansiosamente o relógio. O rapaz ao seu lado estava inquietante. Nem sinal do avião que estavam esperando. A Infraero já anunciara: “tan, tan, a Infraero informa que o vôo 7347, procedente de Brasília poderá atrasar”. Eles só não achavam que a demora seria de mais de uma hora. E finalmente um ponto reluzente lá longe, entre as nuvens, anunciava a chegada de quem estavam aguardando.

Durou mais ou menos ainda meia hora até que se encontrassem ao lado de fora da sala de desembarque. Ele saiu, sorridente, mas seu semblante ficou frio quando olhou para os dois que lhe esperavam. Deu um meio sorriso, fingido, e se dirigiu até o lugar onde estavam. Deu um olá meio seco e perguntou onde estava o carro. A moça de olhos puxados não entendeu, perguntou como tinha sido a viagem, se tinha aproveitado a estadia. Ele não respondeu. O rapaz também não entendeu nada.

Ninguém teve coragem de perguntar. A moça de olhos puxados voltava do aeroporto dirigindo. Ele estava no banco do passageiro e o rapaz entre os dois, no banco de trás. Não trocaram nenhuma palavra. Ele não abriu a boca nem para agradecer por terem ido buscá-lo. Pelo percurso que fariam, o primeiro a ser deixado seria o rapaz no banco de trás. E, logo após ele descer do carro, foi quando ele falou pela primeira vez desde o aeroporto:

- O que ele estava fazendo lá?
- Como assim?
- Como assim? Você ainda tem coragem de perguntar “como assim”?
- Ele é nosso amigo, estava ansioso para que...
- Ele é SEU amigo – interrompeu.
- Mas eu achava que...
- Não, você não achava nada. Você não acha nada. Eu to cansado, acabei de chegar. Só queria ver você e aí você aparece com ele lá.
- Mas eu pensei que...
- Quer saber? Desculpa ser tão babaca, mas eu preciso falar isso: ou ele ou eu.
- O que você ta querendo dizer com isso?
- Não entendeu? É simples. Ou ele, ou eu.
- Eu não posso fazer essa escolha.
- Por quê? Tá com medo de ser sincera e me perder para sempre?
- Não, to com medo de... de... Sei lá. Não quero fazer essa escolha. Não é necessário.
- Bom, é você quem sabe. Pode parar aqui?
- Pra quê eu vou parar no meio da rua?
- Pra eu descer.
- Deixa de ser babaca.
- Eu não to sendo babaca. Diferentemente de você eu estou sendo sincero.
- Ah, vai se fuder.
- Viu? Não é difícil ser sincera.
- Eu não vou parar, vou lhe deixar em casa.
- Não, não vai. O sinal ta fechando. Vou descer aqui.
- Para com isso.
- A escolha é simples: ou ele ou eu.
- Você não está me deixando escolher. Você está me obrigando a escolher.
- Ok. Se eu sou uma obrigação, adeus.
- Espera.
- Adeus.

Ela parou o carro no sinal vermelho. Ele aproveitou, pegou sua mochila e se retirou. Pegou seu emepetrês e colocou os fones no ouvido. O sinal abriu e ela seguiu. Com lágrimas nos olhos. Não podia fazer aquela escolha. Era seu melhor amigo ou seu namorado.

Você já é um homem

Daqui um mês você completa quinze anos. Naturalmente isso seria mais uma concepção para as mocinhas que estão saindo da adolescência e se tornando mulheres. Mas você já é um homem. Não vai ter baile debutante, mas vai ser prestigiado por todos que te rodeiam. Porque, com quinze ou não, você já é um homem. Um homem que superou tantas dificuldades e está aí firme e forte. Como olhar para você e não perceber? Você já é um homem. Já não brinca de carrinhos ou assiste Teletubbies. Mas ainda joga vídeo-game. Porque não? Nossa. Como você cresceu. Está maior do que eu. E é o que? Não, não me venha com essa. Eu não tenho moral com você. Estamos de igual para igual. Desde que eu te vi nascer. Nós nascemos iguais. Você que veio só alguns anos depois de mim. Meu Deus! Você já é um homem. E agora, do alto dos meus vinte e dois anos, como eu posso não me emocionar quando te vejo? Como não pensar que você cresceu e já não é mais aquela criança inteligente, mas um rapaz inteligente? Ei! Larga um pouco esse futebol, vem conversar comigo rapaz. Senta aqui. Tenho saudades de quando te pegava no colo, ainda que tão poucas vezes. Você já é um homem. E eu, sinceramente, ainda não sei como lidar com isso.

Monday, October 11, 2010

dia dos adultos

o sonho de consumo dele era ganhar um robô. era autoritário, egoísta e completamente centrado apenas nas suas coisas. e tinha apenas nove anos. mas se sentia suficientemente grande e maduro para comandar uma gangue escolar e mandar nos pirralhos dos anos anteriores ao seu. é, tinha se esquecido de como era estar na pele deles. ou não. simplesmente queria fazê-los sofrer o que ele tinha sofrido. era a lei do se eu sofri quando estava aí, você precisa sofrer também. se ganhasse um robô, pronto. realmente não precisaria de mais ninguém. poderia mandar, mandar e mandar. e aquele objeto só faria uma coisa: obedecer. a sensação de poder que tomava conta dele toda vez que pensava naquele presente até o fazia parecer um garoto simpático, pois apesar de todos os contras, seu sorriso era meigo, sua voz era doce e sua fisionomia angelical conquistava qualquer um próximo a ele. era dissimulado. e só tinha nove anos. seus pais o conheciam bem. conheciam tanto que para quem perguntasse sobre o garoto, a resposta era sempre com uma pergunta aquele sonso? se isso o machucava, ninguém percebia. era o sinal da sua psicopatia: com críticas ou elogios ele estava sempre sorrindo.

naquele dia das crianças, ele ganhou um robô. ficou tão feliz e agradecido que não disse ao menos obrigado para seus pais. correu para o seu quarto: aquele momento seria só seu. de mais ninguém. agora não precisava de mais ninguém. aquele robô era tudo o que precisava. agora ele ia dominar o mundo, ia dominar todas as pessoas a sua volta, ia mandar até mesmo em seus pais, aqueles dois nojentos que ficavam chamando-o de sonso. poderia se vingar daqueles garotos maiores que tinham batido nele anos atrás, poderia se vingar da tia que insistia em apertar suas bochechas, poderia até mesmo arrancar todas as flores daquela vizinha fofoqueira da casa ao lado. e nada o poderia deter. passaram-se dias e o robô era a única coisa que o acompanhava. sua turma de fortinhos da escola se dissipou. até mesmo aqueles mais próximos tinham medo daquele robô. e o tempo passou mais ainda. passou. passou. passou. até que o menino de nove anos se envolveu profundamente com o robô. começou a passar-lhe óleo todos os dias, lubrificando todas as suas juntas metálicas. desligava-o à noite para que pudesse descansar as baterias. pela primeira vez, o garotinho teve sentimento por algo em sua vida.

passados dois anos, o garotinho contava com onze: não tinha amigos, não tinha família, não tinha sequer outras crianças com quem brincar. e ele não sentia falta disso. aquele robô o bastava. mas o robô já estava se deteriorando. dali alguns dias ele realmente precisaria ser aposentado, o que naturalmente significava jogá-lo fora. seus pais insistiram, mas o garotinho não dava o braço a torcer. era impossível conseguir separá-lo daquele robô. o fatídico dia chegou quando o garotinho dormiu na sala. seus pais levaram o robô sorrateiramente até um ferro velho, passaram na loja de brinquedos e compraram um novo. tirando os arranhões, um dos dedos quebrados e a cabeça torta, não havia nenhuma outra diferença entre o antigo e o novo brinquedo. era apenas um brinquedo. falaram pro garotinho que tinham mandado consertar, trocaram algumas peças e ele tinha ficado novinho em folha. o garoto, autoritário, egoísta e completamente centrado nas suas coisas, acreditou. e continuou a viver enclausurado em torno daquele desejo de consumo tão antigo.

difícil é começar

é engraçado essa coisa da acomodação. a gente reclama, reclama que não tem tempo pra nada. mas quer fazer as coisas. e tempo é só arranjar. o problema não é ter tempo ou não, é não fazer. estou louco para ler, mas não ponho a mão em nenhum livro. estou louco pra viajar, mas não tenho coragem de pedir um dia de folga de cara no trabalho. estou louco pra estudar, mas não tenho coragem de abrir um livro sequer. que adianta somente querer? querer é muito simples. querer todo mundo quer. para ser diferente, você precisa fazer. e o fazer é que é complicado.

temos tempo para fumar um cigarro, para ficar bêbado no fim de semana, para assistir um bom filme ou seriado na televisão. temos tempo para escrever posts, para postar no twitter, para mandar e-mails. até mesmo para ver vídeos do SWU no youtube. e as coisas mais importantes? ficam onde? em que lugar nós as colocamos? sempre por último. mas elas não são as mais importantes? é engraçado: você sabe o que é importante, mas é mais fácil fazer o que te dar prazer. o que falta a gente entender é que as coisas importantes podem te dar prazer. mas só é possível saber isso depois de começar. e aí é que está a parte mais difícil.

Saturday, October 09, 2010

sentimental ao extremo

O quanto eu te falei?
Que isso vai mudar
Motivo eu nunca dei
Você me avisar, me ensinar
Falar do que foi pra você
Não vai me livrar de viver

Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim se pôde evitar

De tanto eu te falar
Você subverteu o que era um sentimento e assim
Fez dele razão pra se perder
No abismo que é pensar e sentir

Ela é mais sentimental que eu
Então fica bem
Se eu sofro um pouco mais

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te
Ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente.
Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa
Eu só aceito a condição de ter você só pra mim
Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir.



me falaram pra soltar, pra soltar tudo.

Friday, October 08, 2010

tapa na cara, aprendizado e verdades inconvenientes

ou momento desabafo pela ......ésima vez! ou auto-ajuda geração quatro!

"enquanto você continuar deixando a programação da rede globo, o bbb, os passeios, as baladas, o futebol, a cervejinha, etc., mandando na sua vida, esqueça qualquer pretenção de passar num concurso desse jaez."

isso soou como um tapa na minha cara hoje. meu discurso é sempre do tipo: não abro mão do meu final de semana. são os únicos dias que tenho pra me divertir e sair do ócio que é o período de segunda a sexta-feira. mas aí me vem à mente uma coisa que uma amiga minha me disse um dia, sobre o que é um ano estudando pro resto da vida aproveitando as consequências desse estudo. eu tenho tantas oportunidades, já fiz tantos concursos e passei em apenas três. nem a maldita oab eu consegui tirar de primeira. não, não me perdoo por isso. não me venham com lições do tipo é assim mesmo, a maioria não passa de primeira. eu tive cinco anos para passar de primeira. e não soube aproveitar isso. eu sei, eu sei, não adianta chorar pelo leite derramado, o que importa é o daqui pra frente e outros tipos de auto-piedade-ajuda, mas se eu não chorar pelo leite derramado e pensar no que eu podia ter feito e não fiz, eu vou continuar do mesmo jeito. preciso me martirizar para progredir. comigo funciona assim. não, não deu certo de primeira, então preciso corrigir os erros. e quais os erros? só olhando pra trás e me lamentando é que vou saber.

"não acredite em sorte! (...) descubra qual é o seu limite. e aprenda a superá-lo. sono? família? falta de tempo? dívidas? filhos? problemas de saúde? há jeito pra tudo. tem mais: você terá que ser egoísta. um egoísmo bom, no sentido de que você terá que pensar mais em si mesmo, no seu futuro, nos seus estudos (...). se o seu maior vilão é o tempo, SE VIRA! ninguém trabalha mais do que 10 horas por dia (se trabalhar, estará sendo escravizado)"

é fato que o anseio da maioria dos acreanos é passar em um concurso público, ser servidor de algum órgão e garantir a aposentadoria. diria que é o meu também. mas mais pela estabilidade financeira que por qualquer outra coisa. eu aprendi com o decorrer do tempo que você sempre terá escolhas. algumas serão as mais corretas, outras as mais erradas. mas você só vai descobrir isso com o tempo. enfim, com o tempo eu descobri que meu negócio é comunicação. que o direito foi uma mera forma de achar que me agradava a idéia que eu tinha quando tinha 7 anos de idade: ser advogado, promotor, diretor do tribunal de justiça, juiz, desembargador e virar nome de rua quando me aposentasse. sim, eu tinha esses planos. mas aí eu vivi várias reviravoltas no decorrer desses cinco anos. e eu percebi que não é só a estabilidade e a grana certinha no final do mês que vai me fazer feliz. é a correria, a imprevisibilidade, a escrita, a discussão (apesar do que preciso fazer um curso de oratória). eu sonho em escrever um livro, um romance, um livro de contos, de poesias, enfim. to correndo pra terminar a faculdade de direito. só depois disso vou me sentir uma pessoa livre para fazer tudo o que eu quero fazer. então eu lanço para vocês: corram atrás dos seus sonhos, das suas vontades, dos seus desejos. no fim da vida, sinceramente, é o que talvez mais vá valer à pena. publicitários me aguardem. vou estudar para ser como vocês.

"aproveite cada minuto do seu precioso tempo para construir seu capital intelectual: folgas, feriados, finais de semana, consultórios, trânsito, academia, vôos, etc. depois (...) você volta para suas futilidades"

abrir mão de um final de semana regado a vodka, cigarros e músicas dançantes. não precisa ser todos, basta uns dois por mês. feriado prolongado? aproveita e estuda cara! tá no trabalho sem nada pra fazer? larga o twitter, o blog, o e-mail. ou então utilize desses meios para adquirir mais conhecimento. porque, apesar de todas as coisas fúteis que existem, esses meios podem ajudar muito. temos fóruns, páginas pessoais e muitas coisas mais por essa internet mundo afora. baixa aulas sobre aquilo que você precisa estudar e escute-as ao invés do samba que sai agora das caixas de som. tudo o que vem fácil, vai fácil. então se você quer alguma coisa pra sua vida, se você tem realmente um sonho e deseja conquistá-lo, faça a dificuldade. abra mão de certas coisas e certamente, lá na frente, você vai olhar para trás e sua única lamentação vai ser: porque eu não tinha feito isso antes?

Thursday, October 07, 2010

Confuso é complicar

Pergunta-se: porque que ele passa tanto tempo sem falar e agora, do nada, resolve abrir o verbo? Você deve estar achando que eu estou falando isso como uma forma de indignação. Mas não, é pra responder da seguinte forma: nunca é tarde. Pra isso nunca é tarde. Pro amor nunca é tarde. Aí ele fala que não quer te confundir, que ele já ta confuso. Mas confundiu. Confundiu porque se ele não tem certeza do que sente, porque ele fala? Num era ele que não queria falar? Mas... Nunca é tarde, não esqueça. Pra ser bem sincero com você, talvez seja impossível que ele tenha isso claro na vida dele. Sozinho, realmente, ele não vai ter. Ou vai, daqui a uns dez anos, quando você estiver casada, com um casal de filhos e morando n’um apartamento de meio milhão. Talvez ele nunca vá chegar numa conclusão. Assim como você também não.

Porque, de uma certa forma, você também é uma pessoa confusa, não é? Não que você não tenha certeza do que sente por ele, mas é que agora apareceu uma pessoa na sua vida, bem bacana, e te confunde saber se troca o certo pelo duvidoso, certo? Mas que certo? Porque ele é legal, bacana, gente fina, te chama pra viajar, te chama pra tudo e quer compartilhar tudo com você? Nós virginianos somos muito certinhos, então daríamos belos indianos do tipo: amor se constrói. E não iríamos arriscar a vida procurando amores por aí, pra só casar quando estivéssemos realmente apaixonados.

Mas, apesar de certinhos, nós não somos tão virginianos assim. Preferimos uma paixão arrebatadora, que doa no peito de tão intensa, a um amor mais calmo. E sabe porque? Porque a nossa vida tão certinha carece muito de emoção. E a nossa emoção vai entrar justamente aí, na parte que nós realmente não podemos controlar: o coração. E é por isso que a gente se confunde tanto quanto estamos falando especificamente de relacionamentos amorosos. Nossa cabeça é um mar profundo, mas tão profundo, que a gente não sabe se vai conseguir chegar ao fim. No caso em questão, chegar a uma conclusão. Você sabe se é isso que você quer? É ele que você quer? Ou é simplesmente o fato de isso estar mexendo profundamente com suas emoções que te faz querer isso?

Acho que você nunca desistiu dele. Ele está marcado em você de uma forma que só quem já passou por isso sabe. Eu sei. E não há nada que vá mudar isso. Isso é amor? É. É amor o que você sente por ele. Mas isso não quer dizer que você precise estar com ele pra ser feliz. É um amor que vai ficar aí pra sempre. Não vai sair de você nunca. Porque, assim como eu, você ama de verdade. E quem ama de verdade não esquece jamais. Não esquece porque de cada amor que passa pela sua vida, você carrega um pouquinho pra sempre. A pergunta, então, aqui é se você realmente QUER estar com ele, ou é simplesmente esse desejo, essa vontade de estar com aquele cara lá, aquele cara que representou tanto na sua vida.

O que aquele moço representa pra você hoje? Eu sei que ontem ele representava um carinha legal, mas que num rolava muita coisa assim. E hoje? Como está hoje? Como você se sente perto dele hoje? Amanhã... Bem, amanhã é amanhã. Se preocupar com o amanhã só traz mais problemas pra gente (e nem adianta eu falar isso... nós virginianozinhos metódicos não conseguimos olhar pra hoje sem pensar no amanhã). A pergunta fatal, que eu te fiz há alguns meses atrás, lembra?, é a seguinte: quem te faz sentir borboletas no estômago? É difícil. É muito difícil tomar decisões, refletir sobre tudo isso e chegar a uma conclusão só. Isso se chegar a alguma conclusão. Deixa a poeira baixar, o coração acalmar, a cabeça pensar.

Wednesday, October 06, 2010

na fragilidade do olhar

cruzaram os olhares na calçada. era carioca. era americana. do norte ou do sul? central. carregava um peso sobre os ombros, não se sabia por quê, mas tinha uma desenvoltura de dançarina dos cabarés. ele, com seu jeito firme, de macho, carregava o peso sobre os pés, pisando a passos largos e fundos. e aquela troca de olhares, lhes deu uma leveza que não entenderam.
foi apenas uma cruzada de olhares. mas foi suficiente para encher ambos os corpos de uma energia infinita com cores e sons variados, de jazz a sambas de mil novecentos e trinta, do bordô ao flamingo. um voltava da madrugada turbulenta de um sábado sem conquistas promissoras, a outra caminhava rumo ao seu exercício matinal: a caminhada pelas ruas da cidade.
uma simples cruzada de olhares e os mundos, dele e dela, desabaram. incrivelmente depois daqueles poucos segundos que se entreolharam a vida pareceu fazer mais sentido e aquela paisagem bucólica de um domingo surpreendentemente tornou-se mais vivaz. não eram mais apenas pessoas caminhando de um lado para o outro pela cidade. eram personagens daqueles que a gente assiste e se vê.
depois daquela cruzada de olhares, ele dobrou a esquina. ela continou seu caminho, mas com um sorriso diferente no rosto. depois daquela cruzada de olhares, ele voltou a escrever poesia. ela resolveu se apaixonar novamente. depois daquela cruzada de olhares, eles seguiram por caminhos completamente diferentes, mas sempre andando para a frente.

Tuesday, October 05, 2010

momento desabafo º

recordo-me bem quando era criança e brincava na rua. corria de ponta a outra, andava de bicicleta, fazia piscina dos morros de areia e só voltava pra casa às cinco e meia da tarde, todo sujo, já correndo pro banheiro. eram tempos mais fáceis. a violência não corria solta por aí, as crianças raramente eram roubadas da frente de suas casas por carros pretos. carros? nos bairros residenciais era difícil ver o movimento automotivo que vemos hoje em qualquer lugar da cidade. os senhores passavam aos gritos, empurrando seus carrinhos de picolé: 'OLHA A MORENINHA!'. moreninha era um sorvete de casca bem frágil, com uma cobertura de chocolate dura cobrindo o sabor de creme, abacate, morango e tantos outros sabores. o senhor da panelada (buchada, dobradinha ou como você prefira chamar), já à noite, passava na bicicleta gritando "OLHA A MULHER PELADA AÍ GENTE!" e lá ia todo mundo pro portão gritar os nomes dos irmãos, dos pais, dos vizinhos e de quem quer mais que fosse. e lá ia ele "OLHA A FULANA PELADA AÍ GENTE". nunca mais vi, acho que partiu dessa pra outra. lembro que o portão caiu em cima de mim uma vez, e que esta foi a única vez em toda a minha vida que eu desmaiei. hoje é aniversário de uma amiga minha. isso tudo passou pela minha cabeça quando eu cheguei a conclusão que não interessa quantos anos você viveu, mas sim que eles tenham valido a pena, não importa se você fez algo, mas se o fez intensamente. é que olho aqui, do alto dos meus vinte e dois anos, e vejo quanta coisa já se passou na minha vida. ao mesmo tempo olho para algumas outras pessoas ao meu redor, já bem mais velhas e fico esperando que me contem histórias da vida que nunca vêm. se vinte e dois anos são poucos, eu prefiro dizer, então, que já vivi 264 meses, ou 1056 semanas, ou até mesmo 8030 dias (sim, aproximadamente. não fui conferir anos bissextos ou etc). Talvez isso corresponda a muito mais que vinte e dois anos. isso depende do ponto de vista de quem vê. aí as vezes eu olho pra trás e essas lembranças me trazem coisas boas, sentimentos bons, e até mesmo as lembranças ruins me trazem pensamentos bons, pois de cada uma delas, tenho quase certeza, eu tirei alguma coisa, algum ensinamento, alguma lição. tudo isso porque ontem eu li uma frase que dizia assim: saudade é o amor que fica. tenho saudade.

Monday, October 04, 2010

de braços abertos

era bonito. sim, era bonito. a água azul lá embaixo tenuamente contrastando com aquele outro azul do céu acima. enxergava pessoas tomando banho de sol, tomando banho de mar, brincando de milanesa com a areia. lá do alto ele podia ver tudo. mantinha os braços abertos, como se pudesse abraçar o mundo. e abraçava. estava suspenso há muitos metros de altura e mal sabia como chegara até ali. preferia apenas curtir aquele visual maravilhoso que concedera às criaturas da natureza. seu lar era ali, o corcovado. e ainda diziam por aí, as más línguas, que deus não era brasileiro.

carbolithium

gosto de quem sorri com os olhos. os olhos são mais sinceros que qualquer outra parte do corpo. admiro quem consegue conversar olho no olho: é muito difícil. eu mesmo não consigo às vezes. mas não que não esteja sendo sincero; eu apenas tenho medo. sinto como se estivessem tentando penetrar no meu consciente. sou um pouco neurótico com isso. na realidade, sinceramente, acho que sou doente. ou deveria ter certeza? apatia deve ser realmente o que eu mereço preservar. incoerente, mas consciente. talvez eu seja um desses candidatos que não recebeu voto nenhum. é, talvez nem eu mesmo votaria em mim.

desculpas

- me desculpa.
- até quando?
- não interessa até quando.
- você não pode chegar e simplesmente pedir desculpas.
- e eu vou fazer o quê? convencê-la de que estou certo se não estou?
- não, ser humilde e aprender com teus erros.
- e um pedido de desculpas não é um princípio disso?
- ao meu entender não. o seu pedido de desculpas, para mim, é só uma forma de amenizar a situação até que algo aconteça de novo.
- é a única coisa que eu posso dizer a você agora.
- você me cansa às vezes.
- você também.
- e o que é isso então? porque esse pedido de desculpas?
- porque um cansando o outro ou não de vez em quando não quer dizer nada. faz parte.
- será que faz parte?
- todo relacionamento é complicado. tudo que envolve você e outra pessoa - em qualquer aspecto da vida - traz complicações. mas também traz felicidade, traz coisas boas. e é a isso que temos que dar ouvido.
- você dá ouvido a isso? não é o que parece.
- sei que tenho um gênio difícil, mas quem não o tem, não é? a gente tem que aprender a conviver com os erros dos outros. você só passa a amar verdadeiramente uma pessoa quando aprende a conviver com os defeitos dela. até isso você deve amar. se não é um amor parcial.
- amar defeitos? coisa estranha de se dizer. acho difícil alguém conseguir isso.
- não é difícil. é complicado, é demorado, deve-se ser paciente, estar aberto para algumas situações por vezes incômodas.
- situações incômodas incomodam, claro. acho que precisamos começar a lidar melhor com isso, você e eu. acho que ambos estamos lidando de uma forma errada com nossas dificuldades, nossos anseios, medos e preocupações.
- que forma errada?
- sozinhos.
- ...
- precisamos nos apoiar, estar um ao lado do outro, estendendo a mão, o braço, a perna. doando o próprio coração para o bem estar do outro. porque não? porque guardar tudo dentro de si, sofrer, ficar angustiado e se desgarrar desse jeito, cuspindo frases de poder, frases de ego, frases de desespero na cara um do outro? onde está nossa civilidade? onde está nossa cumplicidade? onde está nossa sinceridade? onde está isso que a gente chama de amor?
- no coração.
- então, mas não é aí que isso tudo tem que ficar. é do lado de fora, é na expressividade. se ficar só no coração não vale. é preciso que esteja aqui, estampado em nossos rostos, escancarados para que nós possamos nos entender. gritar não vai levar a lugar nenhum. conversar sim, se resolver sim.
- ...
- como sempre você não fala nada. você não tem mais o que falar, você se cala e depois cospe tudo de uma vez. álcool é uma merda mesmo.
- me desculpa.
- voltamos lá pro começo da nossa conversa?
- é só o que eu posso falar, me desculpa.

Sunday, October 03, 2010

acendo mais um

e assim sigo nas emoções febris da vida.

nem lá, nem cá

o que te sustenta? paixão, derrota, dependência, solidão, aconchego, abraço, aperto (de mão)? não. amor. te basta?

"ainda é cedo

amor, mal começastes a conhecer a vida
...
em cada esquina cai um pouco a tua vida
e em pouco tempo não serás mais o que és
...
preste atenção: o mundo é um moinho
vai tritutar teus sonhos tão mesquinhos
..."

lucky strike

estavam os dois sentados ali, ao lado do jarro de rosas brancas. as mãos desataram-se e cada um virou o rosto para lados contrários. havia inocência em um, ingenuidade em outro, raiva e um, piedade em outro, consolo em um, arrependimento em outro. sentimentos que as vezes se completavam, por outras os separavam. a parede estampava uma pintura cheia de pontos de interrogação. era a cena perfeita para o início de um filme romântico. mas, naquele momento, era o cenário aparente de um distorcer de idéias. não há nomes, não há mais palavras. não há mais sequer uma troca de olhares. e eram tão conhecidos, tão conhecidos que dentro de cada um deles brotavam números. cada um deles contava os segundos que o outro demoraria para dar o braço a torcer. um era vinte, o outro trinta e seis. e foi após os vinte primeiros segundos que o primeiro abriu o verbo:
- vai tomar no seu cú.
dezesseis segundos depois, o outro retrucou:
- ô idiota, cu não tem acento.
e procura houaiss, pasquale, aurélio e tudo o mais o que poderia trazer aquela resposta. e nada. não há nada. as ofensas não interessam a um dicionário. interessam ao cérebro de cada um deles.
onde está você, onde está eu, onde estamos nós? onde nós fomos parar?

(se você souber a resposta para essa pergunta, continue. se não, pare por aqui mesmo...)

- eu te amo.
- e porque permanecemos aqui, tão longe?
- desconheço a resposta dessa pergunta.

(se você acredita em finais felizes, continue. se não acredita, também.)

achavam que voltariam juntos para casa. que se excitariam juntos ao olhar para o espelho. mas aquele momento pareceu pertencer a um só deles. o outro, ninguém sabe quem, preferiu manter-se inerte, solitário, a olhar para o espelho. reflexo só seu. egocentrismo falando mais alto que o sentimento aquela hora. ninguém sabia quem, mas só a um deles importava o sentimento àquela hora. e aquele permaneceria sendo um mistério para ambos. para mim e para você que o lê.

Friday, October 01, 2010

acriadora

eu tenho uma amiga que nunca mais vi. não que eu esteja colocando um amigo acima de outro, mas é que essa eu sempre via por aí. fosse nas baladas, fosse trabalhando na rua. ela escreve. e escreve bem pra caralho. trabalhei com ela, estudei com ela. mas ela sumiu. ela não dá notícias. não, não. twitter não é dar notícias. aí eu soube que ela largou o emprego. ou que o emprego largou ela, não sei. aí eu voltei pra cá, e fui ler o blog dela. e me deu uma saudade, sabe? daquele jeitinho romântico, de boneca de porcelana. ao mesmo tempo em que eu via nela o que, talvez, havia de melhor em mim: vontade de lutar, de encarar, de dizer pra mim mesmo que a vida é minha e quem manda nela sou eu. e lendo as coisas que ela escreve a gente acaba se apaixonando também. pelo personagem, pelo próprio ator, pela escritora, pelos leitores. porque cada palavra dela é deliciosamente apaixonte. ai que saudade que me deu. coisa incrível. chega dói no peito. dói no peito quando escrevo saudade e lembro daquela noite regada a músicas calientes, onde ela, sutilmente segurava com a mão uma garrafa de cerveja (de 600ml) e virava na boca. mulher de garra. lembro bem, lembro bem. por onde andas, pessoa? por onde andas?

momento desabafo - mais uma vez

ultimamente, creio que por coincidência do destino, venho me deparando (ih gerúndio) com situações em que analiso bem o que quero fazer no futuro. lembro quando entrei na faculdade de direito, que comecei o curso super empolgado e, ao fim do meu primeiro ano, resolvi prestar vestibular pra jornalismo. lembro que quase um ano depois entrei no coletivo catraia e passei a estagiar na assessoria de imprensa da fundação de cultura daqui. e aí eu me encontrei. parcialmente. porque, como já dito por tantas outras pessoas, o céu é o limite. e aí eu conheci o teatro, conheci a publicidade, conheci as reportagens, conheci a música, conheci a poesia (de todas as coisas, não a escrita). e me apaixonei. perdidamente. mas, cá estou eu, no último ano do curso ao qual eu não pretendo seguir carreira. ainda me falta tanta coisa. tenho tanto ainda pra buscar. e as vezes me sinto tão desmotivado. por mim mesmo. sinto falta dos meus desejos, dos meus anseios, de colocá-los em prática. preciso pegar logo esse diploma. e aí as coisas vão se encaminhar. aí eu vou correr atrás daquilo que, hoje eu sei bem, sou eu. aquilo que faz parte de mim. aquilo do qual eu faço parte.
(vontade de escrever é assim. a gente as vezes usa como um diário mesmo.)

~

o ócio me faz pensar.
me faz respirar.
me faz escrever.

e ai que saudade,
"que saudade docê".

Thursday, September 30, 2010

e a primeira vez é sempre a última chance

resolvi dar valor àquele ditado clichê e não pretendo mais deixar para usar qualquer coisa que seja apenas em ocasiões especiais. todo dia é um dia especial.

de tantas

leio. releio. leio mais uma vez. mais uma última vez.
tantas palavras não ditas, guardadas em rascunhos, presas no (in)consciente da memória.
tantos bordões ensaiados, cartas escritas, atos que ficaram apenas na história.
tantas vontades reprimidas, contorcendo por dentro todas as veias.
clama-se por socorro, socorro, socorro. e ninguém parece escutar.

..

anseia, anseia, anseia. é de ânsia que se sobrevive desgarrado.
é de sonhos, vontades, desejos, que se mantém acordado.
lava as mãos, menino. tira toda essa sujeira daí.
não dá, não dá. é a alma que está suja, não se há de lavar.

..

subi no mais alto dos morros, de impulso n'outro, e me pus a voar.
senti a brisa leve no rosto, sussurrando ao cangote do ouvido:
-você não é pássaro. é gente. desce.
e a cada letra exposta, eu era levado para mais perto do chão.
CHEGA
não se há de me dizer, ninguém há de me dizer, o que eu não posso fazer.
poder. eu posso. mas não tenho.
e, por aquele milésimo de segundo, eu pude conhecer o paraíso.

..

morfina. lexotan. cannabis sativa.
guaraná. lsd. cocaína.

..

a ciência não explica.
e ninguém sabe explicar.
mas é melhor: penetrar ou ejacular?

..

ao pó voltou. e foi jogado ao vento.
nas águas de tudo aquilo que já tinha passado por ele.

Wednesday, September 29, 2010

(interrogação)

sinto falta das palavras. elas parecem ter ido embora sem ao menos dizer adeus. sento, olho, escrevo algumas poucas coisas sem sentido. apago. e nada. e tudo some. e fica tudo sem sentido mais uma vez. são as palavras, ou estou mesmo sem sentido? o que é o sentido? cadê as palavras? aliás, onde estão minhas leituras habituais? minha estante pesa, se sobrecarrega com o peso daqueles vinte, trinta títulos expostos, sujos de poeira, e sem uma página amassada. tanto tempo. e alguns duravam apenas três dias. tudo é tempo. preciso de tempo. eu tenho tempo. e cadê meu tempo? preciso achar. preciso achar de novo. preciso me achar de novo. talvez quem se perdeu foi eu.