Sunday, October 03, 2010

lucky strike

estavam os dois sentados ali, ao lado do jarro de rosas brancas. as mãos desataram-se e cada um virou o rosto para lados contrários. havia inocência em um, ingenuidade em outro, raiva e um, piedade em outro, consolo em um, arrependimento em outro. sentimentos que as vezes se completavam, por outras os separavam. a parede estampava uma pintura cheia de pontos de interrogação. era a cena perfeita para o início de um filme romântico. mas, naquele momento, era o cenário aparente de um distorcer de idéias. não há nomes, não há mais palavras. não há mais sequer uma troca de olhares. e eram tão conhecidos, tão conhecidos que dentro de cada um deles brotavam números. cada um deles contava os segundos que o outro demoraria para dar o braço a torcer. um era vinte, o outro trinta e seis. e foi após os vinte primeiros segundos que o primeiro abriu o verbo:
- vai tomar no seu cú.
dezesseis segundos depois, o outro retrucou:
- ô idiota, cu não tem acento.
e procura houaiss, pasquale, aurélio e tudo o mais o que poderia trazer aquela resposta. e nada. não há nada. as ofensas não interessam a um dicionário. interessam ao cérebro de cada um deles.
onde está você, onde está eu, onde estamos nós? onde nós fomos parar?

(se você souber a resposta para essa pergunta, continue. se não, pare por aqui mesmo...)

- eu te amo.
- e porque permanecemos aqui, tão longe?
- desconheço a resposta dessa pergunta.

(se você acredita em finais felizes, continue. se não acredita, também.)

achavam que voltariam juntos para casa. que se excitariam juntos ao olhar para o espelho. mas aquele momento pareceu pertencer a um só deles. o outro, ninguém sabe quem, preferiu manter-se inerte, solitário, a olhar para o espelho. reflexo só seu. egocentrismo falando mais alto que o sentimento aquela hora. ninguém sabia quem, mas só a um deles importava o sentimento àquela hora. e aquele permaneceria sendo um mistério para ambos. para mim e para você que o lê.

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