o sonho de consumo dele era ganhar um robô. era autoritário, egoísta e completamente centrado apenas nas suas coisas. e tinha apenas nove anos. mas se sentia suficientemente grande e maduro para comandar uma gangue escolar e mandar nos pirralhos dos anos anteriores ao seu. é, tinha se esquecido de como era estar na pele deles. ou não. simplesmente queria fazê-los sofrer o que ele tinha sofrido. era a lei do se eu sofri quando estava aí, você precisa sofrer também. se ganhasse um robô, pronto. realmente não precisaria de mais ninguém. poderia mandar, mandar e mandar. e aquele objeto só faria uma coisa: obedecer. a sensação de poder que tomava conta dele toda vez que pensava naquele presente até o fazia parecer um garoto simpático, pois apesar de todos os contras, seu sorriso era meigo, sua voz era doce e sua fisionomia angelical conquistava qualquer um próximo a ele. era dissimulado. e só tinha nove anos. seus pais o conheciam bem. conheciam tanto que para quem perguntasse sobre o garoto, a resposta era sempre com uma pergunta aquele sonso? se isso o machucava, ninguém percebia. era o sinal da sua psicopatia: com críticas ou elogios ele estava sempre sorrindo.
naquele dia das crianças, ele ganhou um robô. ficou tão feliz e agradecido que não disse ao menos obrigado para seus pais. correu para o seu quarto: aquele momento seria só seu. de mais ninguém. agora não precisava de mais ninguém. aquele robô era tudo o que precisava. agora ele ia dominar o mundo, ia dominar todas as pessoas a sua volta, ia mandar até mesmo em seus pais, aqueles dois nojentos que ficavam chamando-o de sonso. poderia se vingar daqueles garotos maiores que tinham batido nele anos atrás, poderia se vingar da tia que insistia em apertar suas bochechas, poderia até mesmo arrancar todas as flores daquela vizinha fofoqueira da casa ao lado. e nada o poderia deter. passaram-se dias e o robô era a única coisa que o acompanhava. sua turma de fortinhos da escola se dissipou. até mesmo aqueles mais próximos tinham medo daquele robô. e o tempo passou mais ainda. passou. passou. passou. até que o menino de nove anos se envolveu profundamente com o robô. começou a passar-lhe óleo todos os dias, lubrificando todas as suas juntas metálicas. desligava-o à noite para que pudesse descansar as baterias. pela primeira vez, o garotinho teve sentimento por algo em sua vida.
passados dois anos, o garotinho contava com onze: não tinha amigos, não tinha família, não tinha sequer outras crianças com quem brincar. e ele não sentia falta disso. aquele robô o bastava. mas o robô já estava se deteriorando. dali alguns dias ele realmente precisaria ser aposentado, o que naturalmente significava jogá-lo fora. seus pais insistiram, mas o garotinho não dava o braço a torcer. era impossível conseguir separá-lo daquele robô. o fatídico dia chegou quando o garotinho dormiu na sala. seus pais levaram o robô sorrateiramente até um ferro velho, passaram na loja de brinquedos e compraram um novo. tirando os arranhões, um dos dedos quebrados e a cabeça torta, não havia nenhuma outra diferença entre o antigo e o novo brinquedo. era apenas um brinquedo. falaram pro garotinho que tinham mandado consertar, trocaram algumas peças e ele tinha ficado novinho em folha. o garoto, autoritário, egoísta e completamente centrado nas suas coisas, acreditou. e continuou a viver enclausurado em torno daquele desejo de consumo tão antigo.
naquele dia das crianças, ele ganhou um robô. ficou tão feliz e agradecido que não disse ao menos obrigado para seus pais. correu para o seu quarto: aquele momento seria só seu. de mais ninguém. agora não precisava de mais ninguém. aquele robô era tudo o que precisava. agora ele ia dominar o mundo, ia dominar todas as pessoas a sua volta, ia mandar até mesmo em seus pais, aqueles dois nojentos que ficavam chamando-o de sonso. poderia se vingar daqueles garotos maiores que tinham batido nele anos atrás, poderia se vingar da tia que insistia em apertar suas bochechas, poderia até mesmo arrancar todas as flores daquela vizinha fofoqueira da casa ao lado. e nada o poderia deter. passaram-se dias e o robô era a única coisa que o acompanhava. sua turma de fortinhos da escola se dissipou. até mesmo aqueles mais próximos tinham medo daquele robô. e o tempo passou mais ainda. passou. passou. passou. até que o menino de nove anos se envolveu profundamente com o robô. começou a passar-lhe óleo todos os dias, lubrificando todas as suas juntas metálicas. desligava-o à noite para que pudesse descansar as baterias. pela primeira vez, o garotinho teve sentimento por algo em sua vida.
passados dois anos, o garotinho contava com onze: não tinha amigos, não tinha família, não tinha sequer outras crianças com quem brincar. e ele não sentia falta disso. aquele robô o bastava. mas o robô já estava se deteriorando. dali alguns dias ele realmente precisaria ser aposentado, o que naturalmente significava jogá-lo fora. seus pais insistiram, mas o garotinho não dava o braço a torcer. era impossível conseguir separá-lo daquele robô. o fatídico dia chegou quando o garotinho dormiu na sala. seus pais levaram o robô sorrateiramente até um ferro velho, passaram na loja de brinquedos e compraram um novo. tirando os arranhões, um dos dedos quebrados e a cabeça torta, não havia nenhuma outra diferença entre o antigo e o novo brinquedo. era apenas um brinquedo. falaram pro garotinho que tinham mandado consertar, trocaram algumas peças e ele tinha ficado novinho em folha. o garoto, autoritário, egoísta e completamente centrado nas suas coisas, acreditou. e continuou a viver enclausurado em torno daquele desejo de consumo tão antigo.
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