Tuesday, October 05, 2010

momento desabafo º

recordo-me bem quando era criança e brincava na rua. corria de ponta a outra, andava de bicicleta, fazia piscina dos morros de areia e só voltava pra casa às cinco e meia da tarde, todo sujo, já correndo pro banheiro. eram tempos mais fáceis. a violência não corria solta por aí, as crianças raramente eram roubadas da frente de suas casas por carros pretos. carros? nos bairros residenciais era difícil ver o movimento automotivo que vemos hoje em qualquer lugar da cidade. os senhores passavam aos gritos, empurrando seus carrinhos de picolé: 'OLHA A MORENINHA!'. moreninha era um sorvete de casca bem frágil, com uma cobertura de chocolate dura cobrindo o sabor de creme, abacate, morango e tantos outros sabores. o senhor da panelada (buchada, dobradinha ou como você prefira chamar), já à noite, passava na bicicleta gritando "OLHA A MULHER PELADA AÍ GENTE!" e lá ia todo mundo pro portão gritar os nomes dos irmãos, dos pais, dos vizinhos e de quem quer mais que fosse. e lá ia ele "OLHA A FULANA PELADA AÍ GENTE". nunca mais vi, acho que partiu dessa pra outra. lembro que o portão caiu em cima de mim uma vez, e que esta foi a única vez em toda a minha vida que eu desmaiei. hoje é aniversário de uma amiga minha. isso tudo passou pela minha cabeça quando eu cheguei a conclusão que não interessa quantos anos você viveu, mas sim que eles tenham valido a pena, não importa se você fez algo, mas se o fez intensamente. é que olho aqui, do alto dos meus vinte e dois anos, e vejo quanta coisa já se passou na minha vida. ao mesmo tempo olho para algumas outras pessoas ao meu redor, já bem mais velhas e fico esperando que me contem histórias da vida que nunca vêm. se vinte e dois anos são poucos, eu prefiro dizer, então, que já vivi 264 meses, ou 1056 semanas, ou até mesmo 8030 dias (sim, aproximadamente. não fui conferir anos bissextos ou etc). Talvez isso corresponda a muito mais que vinte e dois anos. isso depende do ponto de vista de quem vê. aí as vezes eu olho pra trás e essas lembranças me trazem coisas boas, sentimentos bons, e até mesmo as lembranças ruins me trazem pensamentos bons, pois de cada uma delas, tenho quase certeza, eu tirei alguma coisa, algum ensinamento, alguma lição. tudo isso porque ontem eu li uma frase que dizia assim: saudade é o amor que fica. tenho saudade.

1 comment:

Laura Felício said...

tu sabia que eu descobri que o cara da panelada era traficante. oO Quem iria pensar isso na nossa idade, eim? Sinto saudades tbm. inclusive de ir pra pracinha brincar no parquinho, bem gordos por sinal. hihihi ;*