Antes que você me considere como um ogro desalmado, que simplesmente cerrou os olhos, levantou-se e saiu batendo porta, eu preciso que você saiba do porquê de ter te abandonado noite passada.
Há meses que eu te percebi seguir meus passos com os olhos. Era quase impossível não ver que do lugar onde você fingia aguardar sua carona para casa não se tinha visão nenhuma do estacionamento onde os carros aguardavam a saída dos alunos. Quando puxei assunto com você há algumas semanas foi porque acreditei realmente que aquele poderia ser um sinal de que ainda havia esperança em seguir o caminho tradicional. Eu não tinha apenas achado você a garota com a melhor fantasia da festa da faculdade no dia anterior. Durante aqueles meses, enquanto você acreditava me observar secretamente, eu também te observava na sala de aula. Lembro bem da primeira vez que você me chamou atenção: uma mecha de cabelo pendia solta daquele rabo de cavalo, enquanto você escrevia no quadro um convite para a reunião pública do departamento de estudantes. Eu segui você até o evento, de longe, apenas para observar mais um pouco aquele pisar quase flutuante com que você caminhava. Eu ouvi o seu discurso e assisti sua eleição como representante dos estudantes. É, eu me apaixonei por você ainda naquele primeiro dia de aula. E quando eu percebi que você me observava tão secretamente quanto eu imagino que conseguia verdadeiramente fazer com você, acreditei que talvez fosse plausível dar ouvidos ao que a consciência e o coração me instigavam a concretizar e adentrar o teu espaço para te trazer para o meu. E nos últimos dias, enquanto alimentávamos mais e mais nossas conversas, fomos nos aproximando do momento em que – mesmo que você pense o contrário – eu quis ser um verdadeiro homem com você. Você sabe, era notório afinal, que vontade não me faltava. Em nenhum momento o envolvimento de nossos corpos foi algo que me causou repulsa. Não, não. Mesmo que você esteja com o pensamento voltado para ter isso como verdade, quando você me disse que aquela seria sua primeira vez eu não pude permitir que tudo aquilo que eu sentia tão intensamente fosse maior que culpa posterior por roubar um dos momentos mais importantes da sua vida. Eu não suportaria mais a dor de ser o único de alguém e não poder a ter como única. Não, eu não sou um cafajeste como você deve estar pensando agora. O fato é que, mesmo antes de saber a diferença entre sexo e amor, eu nunca quis ter ambos de alguém e correr o risco de dar o primeiro para outra pessoa que não apenas esse alguém. Mas, ainda que se ame, é possível se envolver com outras pessoas. Na paixão não. Enxergar apenas o que é belo, como quando se está apaixonado, cega o discernimento e faz com que seus olhos estejam apenas em um único alguém. Mas quando se ama, mesmo que inconscientemente, todos aqueles defeitos que você conhece e ignora acabam por se tornar a base do discurso de desculpas pelo envolvimento com outra pessoa. A paixão, aquela que só te faz enxergar um outro alguém perfeito na sua frente, essa não te deixa envolver-se. E quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia buscar outros corpos para me deitar, eu cerrei os olhos. Como se você pudesse ler meus pensamentos e entender que ser quem você queria que eu fosse também implicava ser alguém que você não merecia ter na lembrança. Quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia te ter como uma válvula de escape para todas as desconfianças que me rondavam, eu me levantei. Como se você pudesse entender o quanto eu estava me sentindo envolto na descrença de um ser divino ao enxergar que, além de não poder ser testemunha de todas as suas conquistas, não ser capaz de prometer ser uma das suas melhores lembranças no fim da vida. Quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia ser responsável por impedir que um outro alguém, também conhecedor da diferença entre sexo e amor, pudesse lhe dar ambos de forma contrária ao que eu poderia fazer, eu bati a porta. Eu sempre te achei muito mais do que você acha que é. Não foi por te achar menos que eu parti. Foi por saber que partir era o mais certo a fazer pelo menos que eu poderia ser para você. E você merece muito mais do que eu realmente sou.
Há meses que eu te percebi seguir meus passos com os olhos. Era quase impossível não ver que do lugar onde você fingia aguardar sua carona para casa não se tinha visão nenhuma do estacionamento onde os carros aguardavam a saída dos alunos. Quando puxei assunto com você há algumas semanas foi porque acreditei realmente que aquele poderia ser um sinal de que ainda havia esperança em seguir o caminho tradicional. Eu não tinha apenas achado você a garota com a melhor fantasia da festa da faculdade no dia anterior. Durante aqueles meses, enquanto você acreditava me observar secretamente, eu também te observava na sala de aula. Lembro bem da primeira vez que você me chamou atenção: uma mecha de cabelo pendia solta daquele rabo de cavalo, enquanto você escrevia no quadro um convite para a reunião pública do departamento de estudantes. Eu segui você até o evento, de longe, apenas para observar mais um pouco aquele pisar quase flutuante com que você caminhava. Eu ouvi o seu discurso e assisti sua eleição como representante dos estudantes. É, eu me apaixonei por você ainda naquele primeiro dia de aula. E quando eu percebi que você me observava tão secretamente quanto eu imagino que conseguia verdadeiramente fazer com você, acreditei que talvez fosse plausível dar ouvidos ao que a consciência e o coração me instigavam a concretizar e adentrar o teu espaço para te trazer para o meu. E nos últimos dias, enquanto alimentávamos mais e mais nossas conversas, fomos nos aproximando do momento em que – mesmo que você pense o contrário – eu quis ser um verdadeiro homem com você. Você sabe, era notório afinal, que vontade não me faltava. Em nenhum momento o envolvimento de nossos corpos foi algo que me causou repulsa. Não, não. Mesmo que você esteja com o pensamento voltado para ter isso como verdade, quando você me disse que aquela seria sua primeira vez eu não pude permitir que tudo aquilo que eu sentia tão intensamente fosse maior que culpa posterior por roubar um dos momentos mais importantes da sua vida. Eu não suportaria mais a dor de ser o único de alguém e não poder a ter como única. Não, eu não sou um cafajeste como você deve estar pensando agora. O fato é que, mesmo antes de saber a diferença entre sexo e amor, eu nunca quis ter ambos de alguém e correr o risco de dar o primeiro para outra pessoa que não apenas esse alguém. Mas, ainda que se ame, é possível se envolver com outras pessoas. Na paixão não. Enxergar apenas o que é belo, como quando se está apaixonado, cega o discernimento e faz com que seus olhos estejam apenas em um único alguém. Mas quando se ama, mesmo que inconscientemente, todos aqueles defeitos que você conhece e ignora acabam por se tornar a base do discurso de desculpas pelo envolvimento com outra pessoa. A paixão, aquela que só te faz enxergar um outro alguém perfeito na sua frente, essa não te deixa envolver-se. E quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia buscar outros corpos para me deitar, eu cerrei os olhos. Como se você pudesse ler meus pensamentos e entender que ser quem você queria que eu fosse também implicava ser alguém que você não merecia ter na lembrança. Quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia te ter como uma válvula de escape para todas as desconfianças que me rondavam, eu me levantei. Como se você pudesse entender o quanto eu estava me sentindo envolto na descrença de um ser divino ao enxergar que, além de não poder ser testemunha de todas as suas conquistas, não ser capaz de prometer ser uma das suas melhores lembranças no fim da vida. Quando percebi que, ainda que te amasse, eu poderia ser responsável por impedir que um outro alguém, também conhecedor da diferença entre sexo e amor, pudesse lhe dar ambos de forma contrária ao que eu poderia fazer, eu bati a porta. Eu sempre te achei muito mais do que você acha que é. Não foi por te achar menos que eu parti. Foi por saber que partir era o mais certo a fazer pelo menos que eu poderia ser para você. E você merece muito mais do que eu realmente sou.
1 comment:
Lindo Artur!
Fico lisonjeada!
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