Thursday, August 07, 2014

Valéria

Eu queria ser mais velho. Não tão mais velho como você pode pensar, com cinquenta ou sessenta anos. Eu queria apenas uns anos a mais, uns dez talvez. Ainda seria mais novo que você, mas acredito que estaríamos muito satisfeitos um com o outro. Eu queria já contar com alguns anos a mais de trabalho, para poder oferecer um mínimo do que você merece, mas que acho que não sabe. Ou não se acha boa o suficiente para merecer. Queria um padrão de vida que me permitisse te levar aos melhores restaurantes, às primeiras filas do teatro, a um tour pela Europa nos melhores lugares de trens e aviões. Eu queria poder me responsabilizar pelo seu coração, para ajudar a cicatrizar as feridas e nunca deixar que o machucassem de novo. Queria o pleno livre arbítrio, livre o suficiente para te escolher como a pessoa com quem eu deveria passar o resto da minha vida. Porque, sim, eu acredito que você seja alguém que qualquer pessoa gostaria de ver quando olhasse para sua própria história e você estivesse lá, tão protagonista naquelas memórias quanto ela. É bom ver dois pares de pegadas quando se olha para o caminho percorrido à beira mar. É, antes que eu me esqueça, eu queria mesmo te levar pro mar. Eu quero, na verdade. Porque, consciente das coisas que queria e da impossibilidade delas ocorrerem, essa eu sei que pode acontecer. E eu quero te levar ao mar. Pra poder falar do quanto seu cabelo deve ficar lindo quando o vento sopra. Rir do protetor solar exagerado abaixo dos olhos e do seu desespero quando aquela onda quebrar bem ali onde a gente resolveu curtir um pouco a água salgada. E eu quero que você olhe para o horizonte. Aquela linha que nunca sai dali, tenta nos fazer acreditar que é o fim, mas na verdade nem existe porque o céu e o mar não se encontram. Eu quero que você olhe para aquela linha e veja que ao invés de tentar alcança-la, a gente tem aquele oceano inteiro para navegar. Eu quero que você consiga acreditar que todo barco precisa repousar. E que sempre existe um porto onde se pode ancorar. Tem um porto ali pra você, sabe? Mas você tem que esquecer o horizonte e perder o medo de adentrar mais na água. Não é aqui na praia que você vai ser feliz. Pra mim você é muito mais sereia que peixe fora d’agua. Eu queria muita coisa. Eu quero uma coisa. Mas o que eu preciso mesmo, de verdade, é acreditar que você acredita em si mesma. Oh, pega aqui o remo. Deixa que eu empurro o barco da areia. E vai!

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