Hoje é seu aniversário. E eu nem vejo clichê em escrever algumas palavras para te desejar um feliz dia das coleguinhas soltando o nome do seu namoradinho na escola na frente dos seus pais. Mas aqui dentro eu sinto dor. Você me conhece. Sabe desse meu apego, dessa minha falta de jeito em desenrolar os nós dos cadarços que eu mesmo amarrei. E você sabe do meu tempo, meio perdido por dentro, meio perdido por fora, que é onde eu sempre consigo desenrolar os meus próprios nós para não morrer sufocado. E você sabe como me dói. E como dói no outro. E como é estar doído por dentro, sem poder amenizar a dor que não me cabe.
Eu sempre te escrevi. Bilhetes, cartinhas, última folha do caderno, capa de caderno, contos, crônicas, chegadas e despedidas. E se tem uma coisa que eu amo é escrever. Se tem uma coisa que me agrada é escrever pro outro. É um agrado doce, que eu não perco nem se perceber que o outro não se agradou o quanto eu esperava. É meio que como escrever no papel o que o outro escreveu em mim. E eu sempre te escrevi. Porque você sempre escreveu em mim. Mas hoje, no seu aniversário, eu sou só dor. Por mais esperançoso que seja o meu querer, o amor não me cabe agora para escrever.
Minha fé permite que eu enxergue outros caminhos, mas o que eu sou agora não me deixa nem rastejar até lá. E rastejar não é um movimento que eu estou tão disposto a usar nesse momento em que tudo o que eu quero é a inércia de estar perdido nos próprios pensamentos. Eu sempre te escrevi e hoje eu quis mais ainda, e até comecei, e parei, e comecei de novo e escrevi duas páginas e agora estou aqui. Porque eu quis falar de amor e me perdi. Foi quando eu senti mexer, o coração pulsar, e ele pulsava forte sobressaindo o peito. Era dor. E hoje é seu aniversário, mas eu não consigo me agradar pra te escrever sobre como é bonito o doze de março de todo ano que se seguiu depois daquele de noventa, porque, mesmo que eu ame escrever, não consigo agora falar de amor.
O fato é que eu já desisti de muita coisa na minha vida por causa da dor que sentia ou que poderia vir a sentir, afinal, além da desistência, eu tenho esse muito de medo com pitadas de covardia e falta de estrutura em saber lidar. Foi o primeiro emprego que eu pedi demissão porque impedia uma viagem em família; a faculdade dos sonhos porque tinha aquele outro sonho de ir embora, que não deu certo; o jornalismo nesse eterno vai e vem; desisti do amor próprio pelo amor do outro; e até da vida eu desisti algumas vezes. Mas eu nunca desisti de você. Porque, apesar de toda aquela dor que eu tantas vezes senti, era uma dor muito maior que eu sentia só de pensar em desistir de você em algum momento.
Você sempre foi sonhadora. Talvez tenham sido teus sonhos a pólvora necessária para que eu explodisse toda essa esperança, essa fé, esse não desistir nunca que nem a dor era capaz de me tirar quando eu te via. Você sempre foi sonhadora e eu nunca te impedi de escrever em mim os teus sonhos. Mesmo quando doía aqui dentro, e eu pensava em desistir de você, as palavras me vinham e eu tentava encher teu coração com toda a ternura, paciência, cuidado e até uma certa vergonha, frutos dos sonhos que em mim você escrevia. Porque era uma dor que não me impedia escrever sobre amor. Essa dor eu só ia sentir desistindo. Prestes a desistir eu tinha amor pra te dar. E eu não ia desistir de você. Eu nunca desisti de você. Nem quando você desistiu de si mesma.
Dor. Não é bem o que se deva deixar fluir em palavras de celebração pela chegada de um novo ano. Mas, se é isso que eu tenho hoje para te oferecer, faço meu melhor pra transformá-la em palavras – que podem não expressar os mesmos cuidados, paciência e ternura de outrora, mas com certeza não carregam qualquer vergonha, além daquela minha que eu sinto por causa dessa dor. Essa dor sem hora, convite ou definição que se preze, que não faz nada além de doer e fazer vice-versa do que já fomos um dia. Dói, você sabe. E você me conhece. E conhece também a dor. Essa dor que não cabe na gente.
Enquanto essa dor não me cabe, eu penso sobre tantas outras que já couberam, inclusive aquelas que eu achei que nunca fossem caber. E, umas outras dessas vezes, foram aquelas em que eu me vi quase desistindo de você, principalmente quando já tinha desistido de mim. Doeu muito, sabe? Eu nunca desisti de você, é verdade. Mas isso não quer dizer que você nunca fez doer aqui dentro; isso não quer dizer que eu nunca doí, quase sem me caber aquela dor, porque eu estive perto de desistir várias vezes em que achei que não cabia mais. Você me doeu. E doeu muito.
Hoje é seu aniversário. E eu nem vejo clichê em escrever algumas palavras pra te desejar um feliz dia de chegar da aula direto pro banheiro pra dar fim ao trigo e cascas de ovo no cabelo. Mas aqui dentro eu sinto dor. E, por mais esperançoso que seja o meu querer, o amor não me cabe agora pra escrever. E se é dor que eu tenho hoje pra te oferecer, faço meu melhor pra transformar minhas palavras de um jeito que não te faça sentir vergonha alguma: nem aquela que tinha de si mesma, nem aquela que eu sinto em mim no depois, esse vice-versa nosso de hoje. Porque, mesmo que eu não pense sobre isso mais, tem aqueles dias que a lembrança surge e faz doer só um pouquinho o que muito doía antes. Hoje é seu aniversário, eu estou num desses dias e você já me fez doer demais.
Doeu te ver perder tão cedo a inocência que eu já não tinha, mas fazia o possível pra não deixar ninguém perder. Doeu achar que tinha te perdido, que o mundo aqui fora conseguira driblar todas as armadilhas que eu construí pra te proteger quando não estava presente. Doeu ter que encarar teu pior pesadelo que você vivia como se fosse sonho. Doeu ver você se perder no tempo, e se perder de si mesma. E doeu muito, muito mesmo, quando eu percebi que a vida tava desistindo de você porque já cansara do fato de você ter desistido dela tantas vezes. Mas, hoje, as lembranças fazem doer só um pouquinho. Principalmente porque, acabei de perceber, foi você quem primeiro conseguiu me fazer parar de doer com amor.
Eu sempre te escrevi. Eu amo escrever. E muito me agrada escrever pro outro. É um agrado doce esse de dizer pro outro o quanto que ele escreveu em mim. E eu sempre te escrevi, porque você sempre escreveu em mim. Hoje eu sou só dor. E não me cabe escrever sobre amor. Até agora. Porque só agora eu percebi o quanto que toda aquela dor que você me fez sentir era reflexo do amor que eu sinto desde sempre por ti. Só agora eu percebi que, na hora de decidir entre uma dor que não me cabia e desistir de você, foi o amor que fez caber toda aquela dor quase insuportável de achar que ia te perder. Eu nunca desisti de você. Mas se a vida desistisse eu já não te teria aqui comigo pra continuar a evitar que você jogasse a toalha e abandonasse aquela luta que era fazer caber na gente uma dor que não cabia.
Você me conhece. Sabe desse meu apego, dessa minha falta de jeito em desenrolar os nós dos cadarços que eu mesmo amarrei. E você sabe como me dói. E como é estar doído por dentro, sem poder amenizar a dor que não nos cabe. Minha fé até permite que eu enxergue outros caminhos, mas o que eu sou agora não me deixa nem chegar perto de um deles. O fato é que eu já desisti de muita coisa na minha vida por causa da dor que sentia ou que poderia vir a sentir. Mas eu nunca desisti de você. Não só porque desistir de você era me entregar a dor maior que a que eu já sentia, mas porque você sempre escreveu em mim. Hoje é seu aniversário e eu precisei dessa dor que não me cabe pra, como tantas outras vezes, te escrever uma outra vez. Porque, agora eu percebo, quando a dor não me cabia, você vinha. Doída até, mas sem nunca me deixar desistir.
Hoje é seu aniversário. E eu nem vejo clichê em escrever algumas palavras pra te desejar um feliz dia de agradecer a Deus por te ter na minha vida, mesmo que eu seja grato por todos os outros dias. Porque hoje eu sinto dor. Um dor que não me cabe. Ou quase não me cabe. Ainda não me cabe, na verdade. Mas você me conhece, sabe como eu sou e também já sentiu essa dor que não cabia, mas um dia coube. Tal qual as dores que não cabiam em mim e não desistir de você fez caber. Hoje é seu aniversário e eu queria te escrever todas aquelas palavras bonitas, e desejar todas aquelas felicidades e pedir que o nosso pra sempre nunca acabe. Mas eu sinto dor. E enquanto eu tentava, e tentava e tentava um pouco mais escrever sobre nosso amor, menos sentido tinha cada palavra. Então eu percebi, depois de muito eu percebi: nossa história também tem dor. Muita dor.
No fim das contas, pense bem, nascemos do amor, mas crescemos na dor. Seja ela o mal estar escolhido como prova da geminilidade de nossas almas, seja essa dor que, vez ou outra, parece não nos caber. E quando não te cabia eu estava lá pra não desistir por você. Hoje, que não me cabe, é seu aniversário e tudo o que você já escreveu em mim ficou por aqui, rondando, esperando o momento certo para me deixar escrever pra você sobre dor até eu perceber que era assim que tinha que ser. E eu escrevi. Escrevi, escrevi, escrevi. Um dia inteiro, doendo por dentro uma dor pelo trabalho de lado, pela falta de atenção com outros, pela interrupção de um luto daqueles sofridos que só eu sei sofrer. Um dia inteiro tentando interromper essa que – ainda – não me cabe, sem saber que era ela que me fazia escrever pra você. Porque se ela não me cabia, você a faria caber. Como você sempre fez, mesmo quando vinha doída. Como você sempre faz, sem nunca me deixar desistir. Eu nunca desisti de você.
Eu posso dizer que te amo, mesmo que o amor não me caiba muito agora. Posso te desejar um feliz dia de uma das pessoas mais importantes de toda a minha vida, mesmo que ainda tenha muita vida pela frente. Posso me repetir ainda mais e dizer que nunca desisti de você. Posso não me repetir e dizer que a gente inventa um pra sempre se o nosso acabar, ainda que essa coisa de pra sempre seja mais desejo que realidade. Eu posso muito, ainda que hoje seja pouco. Mas eu posso. Eu posso, sabe? Porque hoje é seu aniversário e, ainda que eu esteja feito de dor, o seu amor faz com que ela caiba onde eu achei não caber. Obrigado. Por todas as dores mesmo. Não fossem elas eu talvez tivesse doído mais. Ou teria amor de menos. Ou, pior, nem amaria mais. Obrigado. Obrigado por me amar mesmo quando sou eu aquele que faz você sentir todas essas dores. Se dói significa que estamos vivos. E é muito bom te ter viva em mim e estar vivo em você. Eu posso dizer que te amo. Eu te amo. E nunca vou desistir de você.
1 comment:
Já escrevi dois cometários e teu blog sumiu com eles, vamos ao terceiro.
A chuva cai e vai, o arco íris aparece e some, o sol nasce e se põe. Eu e você estamos aqui.
A vida é mesmo frágil diante na eternidade no nosso amor e é por isso que não nos cabe agora.
Mas, estamos aqui, em meio a dor e amor, sem desistir um do outro, pq é assim que tem que ser, eu e você.
Em meio as cores, sabores, preto e branco e dissabores muitos vem e vão, mas vc fica, pq é assim que tem que ser.
Obrigada por hoje, ontem e sempre.
Amo você.
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