Minha mãe me teve aos quarenta. Com pouco mais de um ano minha irmã mais nova me salvou de morrer afogado na piscina e alguns anos depois minha irmã mais velha foi escolhida como segunda mãe e se tornou minha madrinha. A namoradinha do colégio me fez escrever os primeiros versos, uma prima é responsável pela lembrança do meu primeiro beijo e o número de amigos que eu cativei no decorrer da vida é inversamente proporcional ao número de amigas, uma delas a única pessoa que conheci virtualmente e criei laços no mundo real. Uma garota de maiô vermelho é dona da lembrança mais saudosa que tenho da infância e duas professoras são responsáveis por duas das coisas que mais me orgulho na vida: a escrita e o meu nome. Levei as alianças no casamento da minha irmã mais velha e tenho o casamento da irmã mais nova como a primeira vez em que me permiti chorar em público. Quando inseguro busquei os braços de uma amiga, tal qual quando precisei revelar um segredo ou levar uns tapas na cara para acordar. Foi com uma amiga que eu fumei pela primeira vez e pude me manter em pé porque ela me segurou quando eu estava fraco. Escolhi minha psicóloga para escrever sobre meu primeiro livro e, dos seis capítulos que o dividem, quatro se iniciam com citações carregadas da sinceridade feminina.
Aprendi o que era amor, entendi a paixão e tive alguns dos momentos mais incríveis da minha vida ao lado da minha primeira namorada. Esperei três meses e, ao invés de um voo direto, escolhi uma conexão de quatro horas só para poder compartilhar uma história olhando nos olhos daquela que me ensinou a transformar distância em adubo para o amor. Minhas irmãs me deram as mãos no pior momento da minha vida e minha cunhada faz um caldo de feijão que recupera a vontade de viver de qualquer pessoa. E, com vinte e seis anos, se não recebo uma mensagem da minha mãe na madrugada eu mando uma perguntando se ela esqueceu que tem um filho na rua. Tenho uma tia solteira que não só me inspira a viver de bem com a vida como a cuidar de quem cuida da gente, porque é responsável pelos quase cem anos da minha tia-avó, a matriarca da família. Ensinei minhas sobrinhas a me chamar de Tito, porque, ainda que com dois sobrinhos, só aceitei ser tio de verdade aos dezesseis anos, quando a primeira delas nasceu. E foi uma garotinha de oito anos que me fez sentir no papel de pai pela primeira vez.
O quinteto do qual fazia parte na faculdade tinha quatro meninas e, quando nos encontramos, é como se ainda estudássemos juntos, mas cada dia com mais amor. Muitas amigas me ensinaram sobre não desistir, outras sobre dar a volta por cima e se reerguer pela própria força. Algumas poucas fizeram de meus piores momentos aqueles em que eu deveria refletir ao invés de reclamar e eu aprendi, principalmente com minhas irmãs – inserida aqui minha cunhada, que me tem como irmão tal qual eu a tenho como irmã – que, aconteça o que acontecer, nós devemos procurar ser felizes e ficar bem com nossas escolhas baseadas no amor. Há uns meses ouvi um amigo agradecer aos pais como forma de resumir tudo o que queria dizer aos que estavam presentes no seu aniversário. E, quando se referiu à sua mãe, ele disse que lhe era grato por ela ter lhe ensinado a ser um homem sensível e amoroso. No dia de hoje eu faço minhas as palavras dele e estendo o agradecimento a todas as mulheres da minha vida. São elas as responsáveis por todos os homens que fazem parte dela. São elas as responsáveis pelas minhas certezas, pelas respostas das minhas perguntas – ou simplesmente por fazerem as perguntas necessárias, pela minha sensibilidade e, principalmente, pela minha vida. Todos os meus dias são delas, na verdade. É que na maior parte deles acordo e vou dormir pensando no quanto eu tenho que fazer aquele dia ser meu. E são elas as merecedoras do crédito por isso, porque todos os dias fazem o melhor que podem para que eu aprenda o que é amor próprio.
A elas o retorno. Um obrigado daqueles bem clichês, mas carregados de amor, àquelas que não só botam no mundo, mas fazem toda a viagem por ele valer à pena.
No comments:
Post a Comment