Estava sentado no bar, como quem não quer nada. Na verdade eu não queria nada. Não àquela hora. Aliás, queria um copo de cerveja. Um copo, não. Uma garrafa. Três, pra ser mais exato. Cinco, pra ficar mais bêbado. Dez para amanhã não mais lembrar. Não lembrar de que, por mais um dia, eu teria de te esquecer. Tinha chegado ali sem querer. O ônibus quebrou no meio do meu caminho e, entre caminhar até a faculdade ou de volta pra casa, preferi atravessar a rua e conhecer o tal do Bar Solitário de que nunca ouvira falar em lugar nenhum. Talvez justamente pelo fato de ser solitário ninguém, além de mim, ainda o tinha visto por ali.
“Bar do Solitário”. Há dias que o via, solitário, à caminho da faculdade, mas, compromissado como sou, nunca tinha resolvido faltar aula para conhece-lo. Vai ver era um sinal do divino. Atravesse a rua, podem existir outros como você – eu dizia a mim mesmo. Não que o fossem, mas poderiam parecer. Sabe lá. Então eu sentei. Pedi ao garçom uma cerveja, um meio limão, um punhado de sal – farei uma cerveja suja como ninguém aqui ainda conheceu, eu pensava – e me dediquei a olhar ao redor. Diversas mesas. Uma pessoa em cada uma delas. O lugar mais movimentado era o próprio bar, onde se alojavam três pessoas, separadas cada uma por um banco entre elas.
Um mantinha o olhar para as outras mesas. Outro se prostrava com a cabeça entre os braços, deitado no balcão. O terceiro, que me chamou a atenção, estava com o olhar fixo no balcão, onde conduzia uma caneta sobre um pedaço de papel. Não o reconheci, mas percebi de imediato que aquele ônibus não tinha quebrado por nada. Os cabelos curtos, uma barba por fazer. Percebia a camisa de botão aberta, a calça jeans desbotada e o all star gasto apoiado no banco em que estava sentado. Abri minha mochila e tirei meu caderno e uma caneta. De repente aquele rapaz sem identidade me trouxera uma inspiração que nem eu imaginava ter.
O “Bar Solitário” já não era mais tão solitário. Me envolvi entre personagens sentados ao meu lado na mesa. Personagens que não existiam, mas existiam. Não estavam ao alcance de todos, apenas ao meu. Ao meu e daquele rapaz de camisa de botão, jeans desbotado e all star gasto. Minha inspiração naquele momento. Levantei da mesa e fui até o bar. Precisava agradecer ter ultrapassado aquele limite de três páginas tão recorrentes nos últimos meses.
- Olá. Vim lhe agradecer.
- Oi? Agradecer?
- É. Escrevi, por sua causa, como há muito não escrevia. Ultrapassei as três páginas. E, nossa, há quanto tempo ansiava por isso! – ele sorriu – Muito obrigado.
- Nem sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. Basta continuar. Não sei se aí, sentado no bar. Mas basta continuar fazendo o que está fazendo. Continue escrevendo sabe-se lá o que nesses papéis.
- São guardanapos – tudo parecia fazer mais sentido.
- Oh, só escrevo em guardanapos para pedir músicas no bar. E aqui não tem música, então...
- Eu escrevo poesia.
- Poesia?
- Alguns assim dizem.
- E você o que diz?
- Eu apenas digo que escrevo.
- Posso ler?
- Claro – e me entregou em mãos o guardanapo que até então eu achava ser um papel qualquer.
- Você não precisa sorrir todos os dias. Mas todos os dias você precisa encontrar um motivo que, um dia, faça você sorrir todos os dias.
- Gostou?
- Sabe, hoje eu entrei nesse bar sem um motivo concreto. Apenas queria beber e acordar amanhã sem lembrar o que quer que tivesse acontecido. Mas agora...
- Agora?
- Agora eu quero lembrar de cada palavra dessa que acabei de ler.
- Assim você me deixa sem graça.
- Obrigado. De verdade, mais uma vez obrigado. Você me inspirou antes mesmo de me mostrar suas palavras. E agora... Agora com essas palavras tudo parece fazer mais sentido. Aliás... Desde sempre com essas palavras tudo parece fazer mais sentido.
- Nossa. Obrigado... Qual seu nome mesmo?
- Artur. Jeronymo Artur.
- Prazer, Artur, eu me chamo Antônio.
- Eu sei.
Foi assim no meu sonho. Foi assim que eu o conheci. Foi assim que eu conheci Antônio. Eu já o conhecia das palavras de tantas outras vezes em que o mundo parecia não ter mais voltas para dar. Eu já o conhecia de tantos outros bares invisíveis que mais ninguém sabia como achar. Antônio. Doce Antônio das palavras escritas em simples guardanapos. Com significados tão simples que nem toda a simplicidade do mundo conseguiria simplificar tanto como a vida acaba se tornando tão simples apesar de tudo aquilo que achamos difícil, mas que, no fim, é mais simples que qualquer outra coisa. Ele se chamava Antônio. Foi assim que eu o conheci. Foi assim no meu sonho.
“Bar do Solitário”. Há dias que o via, solitário, à caminho da faculdade, mas, compromissado como sou, nunca tinha resolvido faltar aula para conhece-lo. Vai ver era um sinal do divino. Atravesse a rua, podem existir outros como você – eu dizia a mim mesmo. Não que o fossem, mas poderiam parecer. Sabe lá. Então eu sentei. Pedi ao garçom uma cerveja, um meio limão, um punhado de sal – farei uma cerveja suja como ninguém aqui ainda conheceu, eu pensava – e me dediquei a olhar ao redor. Diversas mesas. Uma pessoa em cada uma delas. O lugar mais movimentado era o próprio bar, onde se alojavam três pessoas, separadas cada uma por um banco entre elas.
Um mantinha o olhar para as outras mesas. Outro se prostrava com a cabeça entre os braços, deitado no balcão. O terceiro, que me chamou a atenção, estava com o olhar fixo no balcão, onde conduzia uma caneta sobre um pedaço de papel. Não o reconheci, mas percebi de imediato que aquele ônibus não tinha quebrado por nada. Os cabelos curtos, uma barba por fazer. Percebia a camisa de botão aberta, a calça jeans desbotada e o all star gasto apoiado no banco em que estava sentado. Abri minha mochila e tirei meu caderno e uma caneta. De repente aquele rapaz sem identidade me trouxera uma inspiração que nem eu imaginava ter.
O “Bar Solitário” já não era mais tão solitário. Me envolvi entre personagens sentados ao meu lado na mesa. Personagens que não existiam, mas existiam. Não estavam ao alcance de todos, apenas ao meu. Ao meu e daquele rapaz de camisa de botão, jeans desbotado e all star gasto. Minha inspiração naquele momento. Levantei da mesa e fui até o bar. Precisava agradecer ter ultrapassado aquele limite de três páginas tão recorrentes nos últimos meses.
- Olá. Vim lhe agradecer.
- Oi? Agradecer?
- É. Escrevi, por sua causa, como há muito não escrevia. Ultrapassei as três páginas. E, nossa, há quanto tempo ansiava por isso! – ele sorriu – Muito obrigado.
- Nem sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. Basta continuar. Não sei se aí, sentado no bar. Mas basta continuar fazendo o que está fazendo. Continue escrevendo sabe-se lá o que nesses papéis.
- São guardanapos – tudo parecia fazer mais sentido.
- Oh, só escrevo em guardanapos para pedir músicas no bar. E aqui não tem música, então...
- Eu escrevo poesia.
- Poesia?
- Alguns assim dizem.
- E você o que diz?
- Eu apenas digo que escrevo.
- Posso ler?
- Claro – e me entregou em mãos o guardanapo que até então eu achava ser um papel qualquer.
- Você não precisa sorrir todos os dias. Mas todos os dias você precisa encontrar um motivo que, um dia, faça você sorrir todos os dias.
- Gostou?
- Sabe, hoje eu entrei nesse bar sem um motivo concreto. Apenas queria beber e acordar amanhã sem lembrar o que quer que tivesse acontecido. Mas agora...
- Agora?
- Agora eu quero lembrar de cada palavra dessa que acabei de ler.
- Assim você me deixa sem graça.
- Obrigado. De verdade, mais uma vez obrigado. Você me inspirou antes mesmo de me mostrar suas palavras. E agora... Agora com essas palavras tudo parece fazer mais sentido. Aliás... Desde sempre com essas palavras tudo parece fazer mais sentido.
- Nossa. Obrigado... Qual seu nome mesmo?
- Artur. Jeronymo Artur.
- Prazer, Artur, eu me chamo Antônio.
- Eu sei.
Foi assim no meu sonho. Foi assim que eu o conheci. Foi assim que eu conheci Antônio. Eu já o conhecia das palavras de tantas outras vezes em que o mundo parecia não ter mais voltas para dar. Eu já o conhecia de tantos outros bares invisíveis que mais ninguém sabia como achar. Antônio. Doce Antônio das palavras escritas em simples guardanapos. Com significados tão simples que nem toda a simplicidade do mundo conseguiria simplificar tanto como a vida acaba se tornando tão simples apesar de tudo aquilo que achamos difícil, mas que, no fim, é mais simples que qualquer outra coisa. Ele se chamava Antônio. Foi assim que eu o conheci. Foi assim no meu sonho.
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