Nunca fui bom em oratória. Pelo contrário, falar em público sempre me deixou nervoso, com mãos trêmulas e suando frio. Apresentar trabalho na sala de aula era a maior tortura da minha vida. Nunca soube lidar em ser o centro das atenções para coisa séria. Talvez tivesse vergonha das minhas ideias ou simplesmente não conseguisse ser firme para ensinar alguma coisa.
Com o tempo acabei aprendendo a lidar melhor com isso, acabei aprendendo que, em determinadas situações, eu seria obrigado a encarar as pessoas à minha frente. E, mais importante ainda, eu iria aprender a encarar até mesmo aquelas que eu não conhecia. Claro que isso não acontece em todas as ocasiões, mas consigo ser suficientemente corajoso pra apresentar um trabalho, pra expor uma ideia a um grupo, para ler meu discurso de formatura da forma mais natural possível e até para me declarar àquelas pessoas por quem me apaixonei. Alguns eu conquistei assim.
Já outros por pequenas atitudes que eu também sempre considerei muito mais importantes que quaisquer outras extremamente magníficas. Sempre me ateei ao simples, aos detalhes. Porque, pra mim, era aí que tava a beleza da coisa. O significado era mais importante do que o próprio objeto. Alguns eu conquistei assim.
Mas eu sempre fui bom em escrever. Sempre fui elogiado pela letra, pelas palavras bem articuladas no papel, pela criatividade nas atividades que exigiam o uso da imaginação. Sempre fui bom em me esconder atrás dos papéis. Foi assim que uma vez namorei por cartas, ou na vez em que quis contar aos meus pais que eu fumava, ou até mesmo na hora de pedir desculpas por algo errado que fiz. Muitos eu conquistei assim.
No acontecer das coisas acabei conquistando por cada parte dessas. Mas, se gostaram de mim, me amaram foi porque conheceram pelo menos um pouco de todas delas. Só que o tempo passa, as coisas mudam, quer você queira, quer não. Aqueles com as quais você mais agia, você passa a falar mais. Aqueles com que você mais falava, acaba escrevendo mais. E aqueles para os quais mais escrevia, agora se relaciona apenas por pequenos gestos.
Nem eu seria capaz de entender isso sem vivenciar. Porque passei quase minha vida inteira acreditando que as coisas não podiam ser assim. Que essas mudanças não significavam o natural ciclo da vida, mas uma falta de amor, uma falta de sentimento, um desprezo que chegava a ser muito desprezível. Nunca foram justos comigo aqueles que isso faziam. Até que eu visse, ouvisse, lesse, sentisse na pele, no sabor e, por fim, entendesse.
E quando você entende você acaba querendo que todos os outros entendam também. Essa é a parte difícil que você também demora pra aceitar. Que os outros tem o próprio tempo. E esse tempo um dia chega. O tempo que você percebe que pode estar feliz sozinho. O tempo que você percebe que te amam, mas a forma como demonstravam isso pode ter mudado. E até não existir mais. Mas isso não quer dizer que o sentimento não está ali.
Mas é o ciclo natural da vida. Nem todo mundo entende. Nem eu entendia. Nem você, talvez, entenda. Isso é crescer. Pra mim crescer é entender. Desde que eu comecei a olhar para as coisas da vida com um olhar de aprendizado e não da vítima perseguida na sua felicidade, eu passei a estar mais feliz. Porque, sim, eu sei que meus problemas não são maiores que os dos outros. Mas eu já sei discernir, dentre os meus, para os quais eu devo realmente buscar soluções ou para os quais eu tenho que tirar da categoria de problema e colocar na prateleira de simples egocentrismo.