Friday, June 26, 2009

para os desesperados

reconhece a queda, e não desanima. levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima!
Petronio

Wednesday, June 17, 2009

O Amor

Era madrugada. Alegna estava deitada há horas em sua cama, esperando pelo sono que não chegava. Dividia o quarto com mais duas irmãs, que já repousavam adormecidas em suas camas. Tinha lá seus dezessete anos. As outras duas, gêmeas, já estavam na casa dos vinte. Olhava pela janela para o céu negro-azul cheio de estrelas, que, se tivessem sons audíveis, tilintariam lá do alto aquelas variáveis luzes. Adolescente, Alegna tinha sonhos: terminar o segundo grau, cursar a faculdade que tanto sonhava, arrumar um emprego bacana e constituir uma família. Uma família diferente daquela esteriotipada com marido e filhos. Não sonhava com filhos. Nem marido. Sonhava com uma outra mulher que a pudesse fazer tão feliz quanto um marido poderia fazer uma esposa. Cogitava a possibilidade de talvez adotarem uma criança anos a frente. Mas, por enquanto, era apenas uma cogitação. Alegna estava apaixonada. Achava que tinha encontrado o amor de sua vida. Cedo? Talvez. Mas, para ela - e por enquanto isso bastava - aquela era a mulher que queria para sempre ao seu lado. Estava com os pensamentos longe, quando, de repente, uma luz branca, forte, adentrou pela janela do seu quarto, bem em cima da cama onde estava deitada:
- Boa noite.
- Que-quem é você? - perguntou assustada.
- Eu me chamo Gabriel.
- Gabriel? - perguntou com os olhos fincados naquele par de olhos verdes e cabelos dourados.
- Sim. Venho trazer-lhes, em nome de Deus, boas novas.
- Trazer-lhes? - e olhou para as camas de suas irmãs, que já se encontravam em pé próximas à sua cama, com olhares fixos, sem pronunciar uma palavra sequer - Como assim?
A luz branca cessou e Alegna viu um par de asas se fechando por detrás do corpo seminu. Alto, o anjo trazia em suas mãos três pequenas cestas, cobertas por um fino tecido branco que brilhava como a luz das estrelas que observava há alguns minutos.
- Este é para você, Maria. Deus enviou-lhe para que pudesse cuidar dele. - e entregou a primeira cesta, de cujo interior ouviu-se um choro infantil.
- Este é para você, Clara. Deus enviou-lhe para que o criasse. - e entregou a segunda cesta, de cujo interior também se pôde ouvir um choro infantil.
Alegna desesperou-se. Bebês? Para criarem? Como ela poderia criar uma criança? Não tinha condições psicológica, muito menos financeira para tal:
- Permita-me, Gabriel, mas não posso aceitar o que viestes me entregar. Um filho? Não posso ter um filho, não posso criar um filho. Ainda sou muito jovem. E nem sei se quero ter filhos.
O anjo segurou a terceira cesta com as duas mãos e ofereceu-a a Alegna. Alegna segurou o arco da cesta com a mão esquerda, puxando o tecido com a outra, amedrontada com o que poderia estar ali dentro. Não houve barulho de choro infantil, muito menos lágrimas ou membros balançando compulsivamente. No lugar de uma criança um ramalhete de rosas vermelhas.
- Este é seu. Cuide com carinho que ele se reproduzirá. Apenas é necessário que lhe seja dado água. Isso vai bastar para que Deus fique contente com você. O seu destino é semear. Semear o amor. Este mesmo que você carrega dentro de si.

Thursday, June 11, 2009

relembrando

um dia fui coroinha. fui aluno de terceiro ano. fui estudante de catecismo. fui o mais inteligente da sala. relembrei. assim, hoje, rapidamente, de cada um desses momentos. deu uma saudade gostosa. não de querer voltar. mas de ter vivido.

Monday, June 08, 2009

no aguardo

tenho mais ou menos seis meses e meio para ter um insight.

Saturday, June 06, 2009

o antes

louise maria foi uma grande artista de teatro na cidade de rio branco. transgrediu a linguagem e a performance teatral como nenhuma atriz ou ator havia feito. caminhava em passos dançantes, como se sempre houvesse uma música ao fundo, interpretou papéis polêmicos, como uma senhora dona de bordel que fazia parte da classe alta da sociedade - texto inspirado em uma das mulheres desta cidade dizia ela. os homens a desejavam. as mulheres, mesmo sentido-se ameaçadas, adoravam suas histórias. tinha conhecido quase o mundo inteiro, sempre afirmando que, mesmo que fizesse sucesso lá fora, não trocaria sua cidade por nada. simples, morava em uma chácara, n'uma casa não muito grande, mas que dava para viver bem consigo mesma.
já com seus quase cinquenta anos de idade conheceu uma moça. jovem, exuberante, dona de uma postura semelhante à dela em seus tempos de glória. encantou-se por ela naquela madrugada, quando, sentada na mesa de um bar, viu-a entrar desnorteando olhares alheios enquanto passava. pouco tempo depois resolveu apresentar-se. quem sabe não tivesse interesse em participar de alguma peça sua. cruzou o bar inteiro até chegar, finalmente, no canto escuro onde a moça se encontrava. soltou um pigarro fino, como era de se admirar que soubesse fazer:
- boa noite, querida. tudo bem?
ela, de cabeça abaixada, com um cigaerro na boca, apenas levantou os olhos para a louise, que abriu um sorriso enorme ao ver aquela expressão de melancolia misturada à desprezo.
- boa noite. o que quer?
- primeiramente saber seu nome.
um silêncio de vozes, enquanto a moça revirava a bolsa procurando, quem sabe, algo que pudesse acender seu cigarro. louise, muito educada, aproximou-se mais dela estendendo-lhe um isqueiro.
- obrigada. é clarisse. meu nome é clarisse.

foi-se

nada como uma boa noite de sono para re-enterrar coisas do passado. odeio ter memória boa para coisas ruins. fodam-se elas também.

Friday, June 05, 2009

cansado

da mentira, do fingimento, da falsidade, da ignorância, da maldade, da traição, da insensatez. afim de mandar muita gente a merda. aviso aos filhos da puta: torçam para não cruzar meu caminho. não é ameaça, é apenas precaução. de vocês, não minha.

do rei

as vezes dá vontade de ser como o tempo. segundo já disse roberto carlos, ele não pára, no entanto nunca envelhece.