daqui se escorre o teu gosto doceamargo, junto do meu, que se lança pelos poros, de forma a juntarem-se para que, enfim, as estrelas apareçam. em tempos de outrora lançaria-me no mar salgado, em busca de ilhas desconhecidas. mas aqui me sustento, com o pé fincado ao chão e barco ancorado a poucos metros, porque, as vezes, para se dar um passo à frente é necessário recuar. te vejo longe, a desviar das pedras e coqueiros loucos para soltar seus côcos maduros sobre a sua cabeça. e somos dois, como um par de meias na gaveta, que se completam apesar de outros pares tentarem separá-los. disse-me vinicius, em segredo, certa vez, que nada é imortal, considerando que tudo é chama, mas que tudo pode ser eterno enquanto existente. assim, desse jeito sucinto, um quadrado se fecha. quase.
Tuesday, March 31, 2009
parafraseando
Eu não gosto de gente negligente.
Eu não gosto de pais que negligenciam seus filhos, chefes que negligenciam seus funcionários, pessoas que negligenciam pessoas, eu não gosto de quem foge de suas responsabilidades.
Eu não gosto de quem abandona suas OBRIGAÇÕES ou as joga para baixo do tapete.
Eu decididamente não gosto.
Eu não gosto de pais que negligenciam seus filhos, chefes que negligenciam seus funcionários, pessoas que negligenciam pessoas, eu não gosto de quem foge de suas responsabilidades.
Eu não gosto de quem abandona suas OBRIGAÇÕES ou as joga para baixo do tapete.
Eu decididamente não gosto.
de mim: antes de tudo isso, eu não gosto de gente que negligencia a própria vida.
de lá
'Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Como os nossos pais..'
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Como os nossos pais..'
Em uma época eu tinha curiosidade pelo novo, pelo que está, pelo que vinha. Buscava, lia, ouvia. E me entorpecia. Minha época agora é de nostalgia (sensação de saudades de um tempo vivido, frequentemente idealizado e irreal), com uma curiosidade pelo que passou, pelo que estava, pelo que veio. Estou buscando, lendo e ouvindo. Me entorpeço.
Thursday, March 26, 2009
inércia
que venham os magos, os gladiadores, até mesmo os bárbaros. podem chegar e tentar invadir-me. não conseguirão. porque hei de ser mais forte que eles. minha luta não compõe-se de armas e braços, mas de simples idéias, de tato, de percepção. não sou tão novo quanto meu rosto aparenta, nem tão velho quanto lhe pareço ao falar. estou, talvez, no meio. como a linha que separa o céu do mar. infinita e tênue. simples. e, para isso, lhe garanto, não há idade. aquilo que eu sou, depende de quem tu és. sempre.
Wednesday, March 25, 2009
13º
No caminho havia flores. Pisei em todas.
Não por desgosto, desafeto, desamor
Mas porque penso que o que é belo precisa de dor.
Não por desgosto, desafeto, desamor
Mas porque penso que o que é belo precisa de dor.
na real XII
a insatisfação é algo recorrente e comum à maioria das pessoas. são poucos que conformam-se com aquilo que tem. mesmo que, modéstia à parte, seja o melhor.
Monday, March 23, 2009
A Mentirosa Liberdade
Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido. Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não ser livres.
Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter de”. Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.
Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?
Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda aguenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?
Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise. Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.
Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do “ter de”. Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.
Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?
Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda aguenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?
Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise. Liberdade não vem de correr atrás de “deveres” impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.
Thursday, March 19, 2009
na real XI
nem tudo é questão de confiança. certas coisas não são ditas simplesmente por privacidade.
Tuesday, March 17, 2009
na real IX
o corpo fala, então cuide dele. infelizmente algumas pessoas só percebem isso quando estão com 80 anos na cara. e uns 50 de idade.
Friday, March 06, 2009
querendo, ou não, você sempre está a espera de alguma coisa: um dinheiro a mais, uma noite em paz, um bom filme na tv, um bom livro pra ler, uma ligação. e criar expectativas em cima de algo que não acontece acaba se tornando, por vezes, muito triste. vira dependência. mesmo sabendo que pode não acontecer. principalmente porque, na maioria das vezes, você faz planos. e planos, se não realizados, muitas vezes nos deixa decepcionados com nós mesmos. não pelo fato de não ter conseguido, mas pelo fato de não ter se dado conta de que a espera era longa demais. e talvez não haja solução, a não ser colocar na cabeça que você deve esperar sempre mais de você. apenas de você. é difícil, mas a pessoa que mais vai lutar pelo que você quer é você mesmo. acaba parecendo simples, mas tudo isso envolve uma cadeia de coisas que tornam tudo complexo. é a luta. a luta eterna entre você e você mesmo. entre um peixe cego e um menino que são os mesmos em corpos diferentes.
Tudo acaba onde começou
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
Raul Seixas
Tuesday, March 03, 2009
na real VIII
a melhor forma de não levar um tapa na cara do destino, é preparar-se para qualquer coisa que possa vir no futuro. e não, isso não faz perder a graça de uma bela surpresa, mas ajuda para que, quando aconteça uma decepção, a queda seja menor ou, pelo menos, amortecida.
fogo
O poder de dominar é tentador
Eu já não sinto nada
Sou todo torpor
É tão certo quanto calor do fogo
É tão certo quanto calor do fogo
Eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo, eu participo
Não consigo dizer se é bom ou mal
Assim como o ar me parece vital
Onde quer que eu vá e o que quer que eu faça
Sem você não tem graça
Eu já não sinto nada
Sou todo torpor
É tão certo quanto calor do fogo
É tão certo quanto calor do fogo
Eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo, eu participo
Não consigo dizer se é bom ou mal
Assim como o ar me parece vital
Onde quer que eu vá e o que quer que eu faça
Sem você não tem graça
Capital Inicial
Subscribe to:
Posts (Atom)