Era um apartamento pequeno, – onde quarto, sala e cozinha ficavam no mesmo lugar – localizado numa das ruas daquele bairro periférico de nome indefinido. Cortinas encardidas tornavam a luz do sol impenetrável, fazendo com que a escuridão fosse abalada apenas pelo abajur vermelho.
Clarisse abriu a porta e entrou. A chuva fina havia deixado-a inteiramente molhada durante o percurso que fizera da parada de ônibus até seus aposentos. Deixou a bolsa em cima da mesa ao lado da porta e começou a se despir.
Sentou na cama, cruzando as pernas, e retirou da bolsa um maço de cigarros. Acendeu um, cerrando os olhos e soltando um longo suspiro. Seus pensamentos estavam além daquele apartamento. Lembrava de cada detalhe do dia que havia passado. Levantou-se e seguiu até o banheiro.
Olhou-se no espelho. Viu uma certa repugnância estampada em seu rosto manchado. Abriu o pequeno armário e de lá tirou uma lâmina. Trancou a porta – como se houvesse mais alguém ali que a pudesse ver –, abriu o chuveiro e sentou-se embaixo dele. Uma pontada de dor e um gemido suave.
A água fazia com que o sangue escorresse mais rápido.