Thursday, September 19, 2013

saudade da despedida

Me despeço com um beijo e um abraço. Digo um até amanhã com o desejo de que o amanhã chegue dali, no máximo, cinco minutos. Porque a saudade me completa envolvendo todo o meu corpo. Não só uma saudade de estar, mas de sentir. Um desejo e esperança de que o amanhã chegue tão rápido quanto aquele primeiro dia de aula do segundo grau quando, na minha cabeça, eu deixaria de ser criança para me tornar adolescente. Já sinto uma saudade entorpecente guiando meus passos até o momento em que vou te encontrar novamente me esperando ao lado da porta, de mãos abertas para adentrar o desconhecido. Me despeço com um beijo e um abraço como se dali, no máximo, cinco minutos, o mundo fosse deixar de existir. Porque essa saudade me completa com a mesma certeza de que, tão logo, haverá um reencontro.

Wednesday, September 18, 2013

a primeira vez

Começou com uma cadeira virando pra mim e um assunto engraçado sendo conversado. Mas eu prefiro dizer que começou com o primeiro encontro. Meu primeiro encontro, por assim dizer. O fato é que a primeira vez é sempre inesquecível. Pelo menos para mim. Eu estava nervoso, era perceptível. As mãos inquietas, a voz quase inaudível, a falta de assunto e o coração acelerado. Era minha primeira vez. Do primeiro encontro veio o primeiro abraço. Apertado, sem malícia, com carinho e muita gratidão. O nervosismo já não imperava, mas eu ainda ria descontroladamente vez ou outra. Ou sorria sem motivo, digamos. Então o primeiro beijo. Conectado sem amarras, sem diferenças, apenas com um encaixe perfeito. Do primeiro beijo a primeira espera. Não ultrapassar limites, não colocar a carroça na frente dos bois, ir com calma. Um riso bobo, um abraço apertado e o coração sempre acelerado. Então o encontro de corpos. O primeiro encontro de corpos. As mãos trêmulas afagando os cabelos enquanto se seguia rumo ao desconhecido. Um destino desconhecido que parecia há muito estar entrelaçado ao desejo de ambos. E o coração acelerado, sempre. Assim traduzia-se o bater de asas das borboletas dentro do estômago. Uma capacidade eloquente de transformar cada momento em uma primeira vez.

Sunday, September 15, 2013

72 horas


Um sorriso aberto entrega o que cabe nesse espaço de tempo entre um dia e outro e mais um dia. Uns vários sorrisos transmitem a possibilidade de transformar uma esperança em realização, enquanto se tenta desviar um olhar do outro, para que não ocorra de, de repente, fixar os olhos e perceber-se frente a uma miragem. Um coração acelerado vai além da velocidade permitida, encorajado pela impossibilidade de ser multado, mas, tão somente, ser recompensado. Tanto tempo torna-se pouco. E o corpo, estremecido de tão incrédulo, responde apenas aos sinais vitais, como se a qualquer momento fosse desfalecer diante de tão boas intenções. Setenta e duas horas transmutadas no desejo de ser melhor, de fazer melhor, de sentir melhor. Uma prece de mãos entrelaçadas, para acalentar a alma e levar paz aos sonhos que, agora, pareciam se realizar. E os olhos, então brilhantes, fixos na certeza de que estavam tornando aquele pequeno momento em algo eterno. Setenta e duas horas de incertezas tão certas quanto a certeza que após um domingo vem uma segunda.

Wednesday, September 11, 2013

só o tempo

Desejo nunca foi meu forte. Apenas te via através daquela tela que me levava a inúmeros lugares inimagináveis. Eu te via ali apenas como mais um daqueles que transportavam a notícia até a minha casa. Na maioria das vezes de calça jeans, mas sempre com uma camisa social daquelas que eu só vestia nas ocasiões mais importantes. A que eu mais lembro é de uma branca. Nem sei se você ainda a tem. Não sei se é verdade, mas você namorava alguém que eu conhecia na época. E, sim, eu achava que vocês iriam casar. E imaginava a revolução que seria na casa dele se isso acontecesse. E, de certa forma, imaginava como seria a revolução na minha casa caso acontecesse o mesmo comigo. Não te via além da beleza, não posso mentir. Ao mesmo tempo em que, lá vem a minha autoestima super legal, não imaginava jamais te conhecer, porque sempre te achei demais pra mim. E, de repente, tantos anos depois, isso acontece. Não sei dizer exatamente em que momento eu senti aquela pontada diferente no peito. Não sei se foi quando você virou a cadeira pra mim e puxou conversa, ou quando a conversa fluiu, ou quando nos despedimos e eu queria conversar mais, ou quando, de repente, você apareceu na minha lista de contatos, ou quando você passou o dia sem me responder, ou quando eu sonhei com você, ou quando eu senti sua falta. Não sei. Eu nunca sei, na verdade. E é uma das coisas que eu mais gosto em tudo isso: não saber. O não saber é tão legal. Apesar de eu não ter certeza de alguma coisa, eu tenho tempo pra imaginar. Eu tenho tempo pra criar uma história, inventar um futuro, sonhar com o papel principal da novela que eu nunca assisto, mas acompanho pelos resumos virtuais. Você me ignora, sem querer. Me distrai, sem perceber. Me entorpece de um jeito tão calmo que, só Deus sabe, faz tremer os dedos ao se entregarem ao teclado que tentam lhe passar uma mensagem. Você me fala de seriedade e eu brinco de ser sério. Me fala de relacionamento e eu lembro das duas únicas vezes em que quis casar, sem imaginar que uma terceira poderia chegar. E me expõe as flores de um jeito que eu olho para a janela e quero ter um jardim só meu para que você possa cuidar. Ou, melhor, para que possamos cuidar juntos. Me faz querer ser diferente sem nem ao menos ter pedido isso. Me transmite paz pelo simples fato de conversar tão pacificamente comigo que o resto do mundo parece complicado demais para eu conseguir entender. Assim, tão fácil. Tão fácil sem que eu mesmo entenda essa facilidade toda de me conquistar sem olhar, sem tocar, sem prometer nada. Quem pode dizer para onde vai a estrada, para onde vão os dias? Só o tempo. O tempo. O tempo através daquela tela que me levava a inúmeros lugares inimagináveis. Aquele tempo em que eu te via ali apenas como mais um daqueles que transportavam a notícia até a minha casa. Na maioria das vezes de calça jeans, mas sempre com uma camisa social daquelas que eu só vestia nas ocasiões mais importantes. O tempo, senhor do destino. O tempo, que sempre traz a solução sem nem ao menos saber se é dela que a gente precisa. O tempo que vem depois que a gente se sente livre o suficiente para abrir as asas e voar para um ninho mais seguro que aquele com o qual estávamos acostumados. O tempo que abre meus olhos e ilumina o caminho, não sei se mais certo, mas, com toda a certeza, mais aberto e verdadeiro que os tantos outros que um dia eu tentei seguir. O tempo que parece não passar, mas deixa que chegue mais um dia para ser feliz.