aí eu resolvi tomar uma cerveja. é, naquele mesmo bar em que a gente se conheceu. mas eu não consegui me satisfazer com uma, então tomei mais uma, e mais uma, e mais uma, e mais várias. e aí eu lembrei de ti. lembrei de quando você se interessou por mim. quando quis me conhecer, saber meu nome, sair comigo. eu nem imaginava. você também não. seria mais uma noite como outra qualquer. aí passou um filme na minha cabeça, daqueles que em duas horas é possível resumir tudo numa coisa só. só que duas horas é pouco tempo pra resumir. porque até resumo, em relação a gente, é impossível. aí eu lembrei que tenho seu telefone. ligar? não. preferi mandar mensagem. escrever aquelas poucas - muitas - coisas que eu sempre disse, digo e vou continuar a dizer. doa a quem doer. mesmo que doa em você. porque, como já me disse uma amiga minha, passar vontade não vale à pena. eu não passo mais vontade. mas eu sinto saudade. eu sinto saudade da tua voz, do teu jeito, da tua pele colada na minha me fazendo acreditar que éramos apenas um. o que eu ainda acho que seja. e, pelo menos por enquanto, eu ainda não posso pegar essa saudade, colocar no bolso e esquecê-la lá pra que volte da máquina de lavar como um papel rasgado. mesmo que seja o que eu queira. eu queria mesmo que a vida fosse como eu sempre sonhei que fosse. um ano, dois anos, três anos. um noivado, um casamento, um apartamento, uma vida a dois. dividir as contas, comprar geladeira, sofá, arrumar direitinho o quarto da filha mais velha (ou única). rosa? ou será que ela já cresceu demais e quer escolher a cor? aí eu lembrei que eu to aqui, e você tá lá. ou que você tá aqui e eu to lá. eu sei que, no meio desses encontros e desencontros, a gente se encontra. vez ou outra. horas, dias, semanas ou meses depois. anos não. porque anos pra gente é demais. trezentos e sessenta e cinco dias é muito tempo pro que a gente sente, pra gente ficar longe um do outro. eu não digo teu nome, porque não preciso dizer algo que já tá tatuado na minha pele pra todo mundo ver. mas nem todo mundo vê. você vê, eu sei. porque eu também vejo aí, estampado na testa, o meu nome em letras garrafais. nunca te pedi pra me esperar a vida inteira. mas prometi, pra mim mesmo, não perder a esperança de te ter pra minha vida inteira.
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