Olhei pro porta-treco da porta e de lá tirei um espírito-santo. Vinha colorido, com fitilhos variados, encantando o entorno de um aramado que o protegia. Reconheci ali tua delicadeza. Aquela mesma que vez ou outra, querendo ou não, você deixa transparecer. Me embebedei de dúvidas. Se te ligava, se te encontrava, se te beijava, se te amaldiçoava, se me beliscava pra acordar daquele sonho. Não soube escolher. Mas já estava com o telefone em mãos, como se Deus ali o tivesse posto. E ouvi tua voz, do lado de lá, dizer alô. Do lado de cá eu não sabia se agradecia, se me deixava envolver, se me permitia lidar com a insegurança de, de repente, ter ficado feliz com tal gesto. Sorri. E meu sorriso lhe foi percebido. Porque, do lado de lá, tu sorristes também, eu percebi. A gente sabe quando alguém sorri do outro lado. Agradeci pela lembrança. Não entendia como ela tinha ido parar ali. E nem você quis dizer. Talvez eu tenha deixado a porta do carro aberta enquanto comprava o sanduíche ali do lanche da praça, onde estava antes de qualquer outra coisa. Você só disse que não precisava agradecer. E que me amava. E talvez isso tenha se tornado algo tão inimaginável que eu nem acreditei. Mas senti necessidade de dizer o mesmo. Não uma obrigatoriedade. Mas antes que te dissesse, talvez tenha sido Deus, eu acordei. Despertei e, quando fechei os olhos novamente, não consegui te ver mais. Você já tinha ido.
1 comment:
Tenho uma relação de amor e ódio com esse tipo de sonho...
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