Quando te conheci, pequena
menina, eu lembro bem do teu sorriso. Lembro bem porque, junto do teu sorriso,
vinha uma risada tão gostosa e escandalosa quanto a minha. E eu nunca tinha
ouvido uma risada tão escandalosa quanto a minha. Minto, até tinha, mas já
fazia tanto tempo que meu primeiro grau havia passado. Eu, de repente, estava
ali, quase no auge da minha vida adulta, ouvindo alguém rindo tão
verdadeiramente quanto eu. Que felicidade perceber que alguém, além de mim, conseguia
rir tão sinceramente quanto eu.
Mas, apesar de todo meu encanto
com aquela risada irmã gêmea da minha, ainda não era possível compartilhar
ambas sem manter um pé atrás. Não da minha parte, que sempre me permiti
investir e invadir qualquer terreno além de minha cota parte. Senti que, daí do
seu lado, vinha aquela primeira esperança de ter uma confiança que talvez nem
você mesma imaginasse que fosse preciso ter. Senti que, antes mesmo de saber
quem eu era por completo, era necessário você ter certeza que podia se
completar a sós para abrir caminho para
minha inevitável vontade de te ter como amiga.
Nos encontramos, e
complementamos, acredito eu, quando decidi deixar minhas inseguras amarras de
lado para abrir os braços e te deixar entrar, mesmo que sem querer, nesse
labirinto quase infinito que são os dias que caminham sob meus pés. Não quero
me sentir responsável pela sua crença. Nem quero te tornar responsável pela
minha espontaneidade em acreditar em você. Mas, é fato, creio eu, que, naquele momento
em que me aproveitei do álcool e abri meu coração pra ti, foi aberta uma mesma
esperança de que esse encontro – ou reencontro – seria o começo de algo tão bom
e verdadeiro que não precisaria de explicação.
Não foi possível te amar desde o
primeiro encontro. Mas foi completamente verdadeiro me apaixonar pelo seu
sorriso. Mesmo antes de nos conhecermos e ouvirmos segredos um do outro. Se não
segredos, dúvidas. Mesmo antes de tudo isso eu já acreditava que eu aprenderia
muito mais estando contigo do que você aprenderia comigo. Não desacreditando em
mim, mas acreditando em toda essa experiência que você transmite. Mesmo que
inconscientemente, eu já sabia que aquela menina sorridente, que gargalhava tão
alto e feliz quanto eu, seria uma das pessoas mais verdadeiras que eu poderia
encontrar na vida.
Me apaixonei pelo sorriso
metálico primeiro. Depois pela gargalhada. Em seguida pela responsabilidade e
crença em si mesma. Depois veio a independência tão sonhada por mim que eu via
extravasar pelos seus olhos. Veio, então, a percepção de que você conseguia ser
maior do que imaginava ser – mesmo sem saber. E, por fim, você conseguiu me
fazer entender que nós mesmos somos os maiores responsáveis pelo sorriso que
nos cabe no rosto. Você, mesmo sem querer, ou até querendo, me fez acreditar
que não é necessário ninguém além de mim para ter um sorriso no rosto e me
permitir conhecer novas coisas.
Amanhã – e aqui me refiro a
quanto anos a frente possamos imaginar – pode ser que eu não sinta mais como
hoje. De você eu não sei de certeza, apenas sinto como acredito que deva
sentir. Amanhã pode ser que eu me mude, você se mude, que não nos encontremos
mais e que tudo isso fique na minha lembrança. Mas, antes que essa
probabilidade possa se manter firme, eu quero dizer que o sorriso que você faz
se expor no meu rosto a cada contato, conversa, troca de ideias, abraço, é
muito verdadeiro. E agradecer por me fazer tão querido. Sua risada não só me
contagia. Ela me faz ter certeza de que eu existo.